quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dois Anos de Crise: 1931 e 2010




A revista Weekly Standard dessa semana traz um extenso e excepcional texto de Matthew Continetti sobre os últimos dois anos de crise financeira no mundo. O texto na internet tem três páginas, na revista, que eu não vi, deve ocupar umas dez páginas.

É um excelente artigo, pois faz uma comparação minuciosa entre dezembro de 1931 e dezembro de 2010. Em 1931, também tínhamos dois anos de crise financeira, logo após o crash nas bolsas dos Estados Unidos em 1929. Continetti comparou os jornais dos dois anos, o sentimento da população e o momento histórico. Ele conseguiu montar um quadro super interessante das duas épocas, comparando-as. Recomendo a leitura do texto, mas vou resumir suas comparações aqui.

Claro que as semelhanças entre dois períodos são sempre imperfeitas. Mas, como em 2010, em 1931, tínhamos uma crise moral, militar, ética e política, além de uma crise financeira.

Em 1931, os Estados Unidos tinham elegido um presidente em 1928 (antes da crise), Herbert Hoover, que não tinha experiência política alguma, a não ser como secretário de estado para o comércio dos dois últimos presidentes. O país vivia uma época de prosperidade. Hoover era engenheiro de minas e se elegeu pelo partido republicano. Houve grande apoio para ele, pois ele era conhecido por ter feito um trabalho humantário de distribuir alimentos durante a Primeira Guerra Mundial na Europa. Ao final de seu mandato, em 1932, Hoover não conseguiu se eleger, principalmente por não ter vencido a crise.

Em 2010, os Estados Unidos têm um presidente, Barack Obama, que era quase desconhecido até sua eleição nas primárias do partido Democrata. Sua experiência política era apenas como um discreto senador, cuja participação era sempre relacionada à extrema esquerda do seu partido. Obama é formado em direito e professor em Harvard, e não tem experiência no mercado privado. O fato de ele ser o primeiro negro eleito para presidente trouxe imenso apoio popular não apenas nacional mas internacional e facilitou sua eleição. Sua chegada ao poder veio com grande expectativa e esperança. Mas, em 2010, sua popularidade é negativa.

Os dois presidentes defendem intervenção governamental. Não acreditam que as forças do mercado podem ser as mais importantes para resolver uma crise financeira. Mas Hoover era bem mais reticente em usar essa intervenção do que Obama.

Nos dois anos, nas eleições parlamentares, o partido no poder perdeu controle sobre a Câmara dos Deputados e por pouco não perdeu o controle do Senado. Nos dois dezembros, a discussão no Congresso era sobre aumento de tributos. Em 1931, esse aumento foi aprovado, mas em 2010 a pressão dos republicanos evitou esse aumento. Em 1931 aprovou-se uma lei que proibia homossexuais nas forças armadas, e em 2010, Obama aprovou uma lei que permite não apenas a participação dos homossexuais (o que já era permitido), mas que eles sejam ativos na exibição de suas preferências sexuais dentro das forças armadas. 

Em termos de crise financeira, há uma grande diferença de magnitude. De acordo como o National Bureau of Economic Research, a crise financeira inicial de 1929 (pois ocorreram vários pedaços de crises até a Segunda Guerra) se arrastou por 43 meses, de agosto de 1929 a março de 1933. Neste período, o PIB americano caiu 30%. Enquanto, a crise inicial de 2010 já acabou. Ela se alastrou por 18 meses e o PIB caiu por apenas 4%, no período. Em 1931, a taxa de desemprego era de 15,9% (chegaria a 25% em 1933), hoje está por volta de 10%.

Em 1931, não havia estabilizadores sociais. Isto é, não havia seguro-desemprego ou depósito compulsório bancário para evitar crise financeira, nem sistema público de saúde. A pobreza estava realmente presente nos Estados Unidos. No entanto, apesar disso, as pesquisas de opinião da época mostram um povo mais otimista do que as pesquisas de hoje. Hoje os Estados Unidos são muito mais ricos e estáveis do que eram em 1931, mas são mais pessimistas.

Em termos de desejo da população, comparando os dois períodos. O povo americano em 1931, talvez pela falta de qualquer amparo social e porque o governo era bem pequeno na época, era muito mais intervencionista do que é hoje. Eles queriam saúde de graça, subsídios para crianças, dinheiro sem juros para agricultores, limites para gastos militares e mesmo que o governo assumisse as indústrias de eletricidade e de munição. O povo queria mais poder para o governo federal.  

Hoje, as pesquisas de opinião mostram que a maioria deseja um governo pequeno, com um mínimo de intervenção no setor privado e nas questões sociais. Basta ver a força que o movimento Tea Party conseguiu. Em 1931, era o partido comunista que conseguia agregar pessoas. O capitalismo não era atrativo, outras ideologias eram mais influentes. O mundo comunista se apresentava como uma forte alternativa. Ainda não se conhecia o desastre que ele traria.

Em 1931, o padrão ouro estava sendo abandonado. Em 2010, há um forte risco que o dólar perca seu poder como moeda de troca no mundo.

Em termos internacionais, tínhamos quase dez anos de permanência de Mussolini na Itália e o governo japonês invadiu e dominou a Manchúria chinesa. Hitler já era bastante conhecido e influente, mas não tinha ainda chegado ao poder. Nazismo alemão, fascismo italiano, imperialismo japonês e comunismo soviético formavam a estrutura internacional de 1931.

Hoje, temos ameaça de destruição nuclear em várias frentes (Irã, Coréia do Norte, Paquistão), grandes problemas civilizacionais (guerra cultural e religiosa), terrorismo em várias partes do globo (Colômbia, Tríplice Fronteira, Sri Lanka, Somália, Iraque, Iemên, Palestina, Afeganistão, Líbano, Síria) e excesso de presença do estado na grande maioria dos países.  

Em 1931, o mundo não controlou as ameaças. O comunismo, o nazismo, o fascismo e o imperialismo japonês prosperaram e provocaram devastações que se alastraram até a década de 90. E agora?

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