quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Por Que a Ciência Acabou no Mundo Muçulmano? (Parte 2)

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Então, vamos para a Parte 2 sobre o declínio da pesquisa científica no mundo muçulmano. Texto de Hillel Ofek.  Como lhes disse na Parte 1, estou resumindo e traduzindo o texto dele.

Não é possível identificar uma explicação única para o desenvolvimento da ciência no mundo muçulmano entre os séculos 7 e 13. Não ocorreu nenhum governante que implantasse a pesquisa cientifica, nem uma cultura única que incentivou a ciência. Foi uma conjunção de fatores.

Por volta do ano 750, os árabes tinham conquistado Arábia, Iraque, Síria, Líbano, Egito, quase todo o norte da África, Ásia Central, partes da Espanha e estavam nas portas da Índia e da China. As rotas que se abriram fizeram explodir o comércio e incentivar a agricultura. Pela primeira vez, desde Alexandre o Grande uma vasta região estava unida politcamente. O primeiro reinado foi dos califas Umayyads, que governavam de Damasco (entre 661 e 750 d.C), depois o dos califas Abbasids que governavam de Bagdá (entre 751 e 1258), no qual floresceu a época de esplendor intelectual da história árabe. Ao invés de focar nas tribos e na etnicidade, os Abbasids fizeram da religião e da língua árabe as características que davam identidade ao estado. Isto permitiu a formação de uma cultura cosmopolita. O império Abbasid sobreviveu até 1258, quando foi destruído pela invasão mongol.

O vasto império era teologicamente e etnicamente diverso, mas a remoção das barreiras possibilitou a troca de experiência entre os estudiosos. As barreiras linguísticas foram superadas com a adoção do árabe como idioma comum.

Ofek afirma que o a razão mais significante para o desenvolvimento da ciência no mundo árabe foi a absorção e assimilação da herança grega, um desenvolvimento proporcionado pelo movimento de tradução do califado Abbasid em Bagdá. Por volta do ano 1000, quase todos os ensinamentos gregos em medicina, matemática e filosofia natural tinham sido traduzidos para o Árabe.

Ofek oferece quatro fatores que inspiraramm o movimento de tradução que ocorreu entre os séculos 8 e 10:

1) Os Abbasid consideravam os textos gergos muito úteis para o progresso, especialmente a matemática (engenharia, irrigação), a medicina e a astrologia (mostrar os horóscopos dos governantes (mesmo sendo contra os ensinamentos islâmicos), localizar onde está Meca e estabelcer o Ramadã);

2) Apesar do movimento de tradução começar nos século 8, a cultura grega já vinha se difundido muito antes do califado dos Abbasids. Então a tradução dos gregos era meio que a continuação da difusão do helenismo iniciado por Alexandre o Grande. No período das conquistas árabes (iniciadas me meado do século 7) a língua grega era conhecida em uma vasta região. Era a língua administrativa da Síria e do Egito. Com o advento do Cristianismo, o grego foi ainda mais divulgado por meio de missionários, especialmente por Cristãos Nestorianos. Séculos depois muitos Nestrorianos chegaram a Bagdá no período dos Abbasids e se converteram ao Islã, contribuíram para a tradução do grego e mesmo ocuparam postos na administrção pública dos Abbasids.

3) Califas Abbasids desejavam legitimar seu poder sobre os persas, que no período idolatravam a cultura grega, assim os Abbasids incorporaram inclusive o Zoroastrismo e a idologia política do antigo reino Sasaniano, que tinha sido o último império na Pérsia antes da chegada do Islã. Eles  queriam mostrar que eram na verdade sucessotres dos Sassanianos e não do antigo califado Umayyad. Os persas achavam que os textos do Zoroastrismo tinham sido destruídos por Alexandre o Grande, mas tinham sido apropriados pelos gregos, então a tradução do grego podia recuperar a sabedoria Zoroastra.

4) A tradução teve impulso também com o reinado de al-Mamum (morto em 833) que queria contrapor o império bizantino. Os textos gregos, apesar de não conter os ensinamentos do Islã,  não tinham sido manchados pelo cristianismo, que dominava o império bizantino.

No entanto, a partir do século 12, a Europa tinha mais cientistas que o mundo árabe. A Renascença européia passou despercebida no mundo árabe.

Assim como não há uma explicação única para o florescimento da ciência no mundo árabe, também não há uma explicação única para o declínio.


Amanhã continua...



2 comentários:

Vânia Cavalcanti disse...

Olá, Pedro Erik!

Ando sumida porque estive com a filha adoentada. Agora ela já teve alta e está em casa, meu mundo volta a ter ordem. Ô blog continua excelente e maravilhosa sua iniciativa em publicar estes textos sobre o fim da ciência no mundo muçulmano! Trata-se de leitura para ser guardada, um verdadeiro material de referência difícil de ser encontrado, especialmente sem rebarbas ideológicas. Parabéns e grande abraço

Pedro Erik Carneiro disse...

Muito obrigado, Vânia.

Muita saúde para a sua filha.

Realmente é um excelente texto, estou aprendendo bastante. Há também bastante indicação de ótimos licros sobre o assunto. Amanhã vai a última parte.

Abraço,
Pedro Erik