São Tomás de Aquino, o "Doutor Angélico", certa vez, diante de um crucifixo em Nápoles, ouviu estas palavras de Jesus: “Bem tem você escrito sobre Mim, Tomás, o que devo te dar em recompensa?" São Tomás respondeu: “Nada senão a Ti mesmo, meu Senhor". Em latim, São Tomás disse: Nil, Nisi Te, Domine. Em inglês: Naught save Thyself, O Lord.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Quem é Esperança, Fé e Caridade? E Quem é Verdade, Beleza e Bondade?
O site Catholic Vote preparou uma imagem no seu facebook que definia os três últimos papas pelas virtudes teologais: Esperança, Fé e Caridade (em latim: spe, caritas e fides). João Pualo II seria a Esperança, Bento XVI seria a Fé, e o Papa Francisco seria Caridade (vejam abaixo).
Será que seria teologicamente e historicamente honesto definí-los assim?
E o professor de teologia Donald Prudlo discutiu na revista Crisis Magazine os três últimos papas pela tríade filosófica: Verdade, Beleza e Bondade. João Paulo II seria a Verdade, Bento XVI seria a Beleza, e Francisco seria a Bondade.
Seria teologicamente honesto definí-los assim?
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Com relação a imagem do Catholic Vote, Michael Barber, do site Sacred Page, discorda desta definição. E eu concordo com ele. Acho que é importante conhecer bem os papas para poder definí-los em apenas uma palavra.
João Paulo II escreveu a grande encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), foi ele quem publicou o Catecismo da Igreja e que na sua Constituição Apostólica, Fidei Depositum (Depósiti da Fé), ressaltou o valor da fé.
Bento XVI escreveu duas encíclicas sobre caridade Deus Caritas Est (Deus é Caridade, pode ser traduzido também comoDeus é Amor), e Caritas in Veritate (Caridade na Verdade), além de ter uma abodagem do sacramento como caridade na carta Sacramentum Caritatis (O Sacramento da Caridade).
Então, para Barber, e eu acho que ele tem toda razão, melhor, mais correto historicamente e teologicamente, seria definir João Paulo II como Fé, Bento XVI como Caridade, sobraria Esperança para o Papa Francisco, teríamos que ver qual é sua abordagem, é muito cedo ainda:
Com respeito ao texto do professor Prudlo, é um belíssimo texto, e eu comemtei no site dele que me parece que ele critica nas entrelinhas a abordagem do Papa Francisco de querer abandonar certas tradições da Igreja, como as vestimentas papais.
Prudlo analisou os papas usando a tríade filosófica: Verdade, Beleza e Bondade. João Paulo II representaria a Verdade, Bento XVI a Beleza e o Papa Francisco a Bondade. Diante da tríade, eu concordo com a definição de Bento XVI como sendo a Beleza, porque ninguém mais do que ele teve preocupação com a liturgia da Igreja (missa, música sacras, sacramentos, comportamento dos cristãos, etc). Mas acho complicado retirar a Verdade e a Bondade de todos eles. Prudlo lembra isto ao dizer que as partes da tríade não podem vir separadas.
A Igreja Católica vê esta tríade especialmente em Cristo. São Tomás de Aquino argumentou que Deus não representa a verdade, a beleza e a bondade. Ele é a Verdade, a Beleza e a Bondade. Chesterton disse que "Deus não é um símbolo da Bondade: a Bondade é a símbolo de Deus".
Vou traduzir aqui parte do texto de Prudlo (em azul). No texto, achei bastante elucidativo quando Prudlo lembra que São Francisco ressaltou a beleza da liturgia da Igreja e condenou quem abandonava esta beleza.
Eu estava familiarizado com o Papa Bergoglio antes do Conclave, e como a maioria dos outros tinha escrito que ele era demasiado idoso para ser elegível. É sempre uma surpresa agradável descobrir concretamente que a mídia muitas vezes está completamente no escuro sobre o que transparece por trás das portas fechadas do Conclave. Eu passei vários dias para conhecer Francisco, e tive o privilégio de estar em uma de suas primeiras audiências, o da recepção para jornalistas, bem como em sua Missa de inauguração.Francis é claramente um homem muito bom e santo, alguém dedicado a uma vida radical a mensagem cristã, cuja expressão irradia alegria. Em seu primeiro discurso ele falou da clivagem da cruz, e dos perigos do diabo. Ele é um homem que tem estado intimamente envolvido com a guerra espiritual. Embora seu estilo de falar seja simples, é eficaz. Ele parece ser mais um contador de histórias do que um pregador, formal programático.
Francisco disse: "Deve ficar claro que todos nós somos chamados não comunicar a nós mesmos, mas esta tríade existencial feito de verdade, beleza e bondade." Esta frase no público particularmente me impressionou e me deu esperança. Papa Francis transmitida a nós, a característica essencial de auto-anulação, à luz do próprio ser. A verdade, a beleza e a bondade são aspectos metafísicos do ser. Para os cristãos, a tríade está encarnada em uma Pessoa, Jesus Cristo. Portanto tudo o que é verdadeiro, e bom e belo deve ser para a edificação da Igreja e da família humana. Como corolário contudo, os três devem estar sempre em conjunto e nunca separados.
Se eu puder fazer uma simplificação, João Paulo II foi o papa da "Verdade", que (com Ratzinger) recordou que a Igreja na sua profissão de ortodoxia, através da catequese e Catecismo, através do desenvolvimento cuidadoso e forte afirmação da doutrina. Bento seguiu sua ênfase na beleza. Não foi um esforço estéril no esplendor da alfaiataria, como muitos parecem rejeitá-lo. Pelo contrário, foi um chamado para a Igreja reconhecer a beleza da verdade, incorporado na cultura humana formada pela Palavra de Deus. Isto foi realizado concretamente na promoção de Bento de elevar a música, ao mesmo tempo sagrada e secular, de sua abertura para a forma extraordinária da missa, de sua retenção dos elementos graciosos e maravilhosos de culto anglicano clássico no Ordinariato. Ainda mais belo era a submissão de Bento XVI ao seu papel como o sucessor de Pedro, Bento exalava uma humildade com consciência de sua posição como cabeça da Igreja de Cristo na Terra, que ele realizou com o decoro e dignidade.
Agora esperamos que Francis complete a tríade. Por enquanto, é claro que João Paulo II e Bento tinham diferentes missões históricas. Francis pode chamar-nos de volta para o Bem, e à imitação d'Aquele que é o fim e propósito de todos os desejos. Deve-se a ter a visão e a coragem para realizar a bondade em todo o mundo. Francis parece extremamente bem equipado para essa tarefa, e estou certo de que os cardeais identificaram esta característica desejável.
O que não deve ser perdido, porém, é que a unidade dos transcendentais é necessária para um testemunho eficaz de Cristo que é a Verdade, e a Beleza e a Bondade juntos. O que é a Verdade, sem beleza ou bondade? Um silogismo banal e nu. O que é Beleza sem Verdade e Bondade? Um esteticismo estéril sem fundamento racional e sem propósito. O que é a Bondade sem a Verdade ea Beleza? Um Estado burocrático distribuindo rações, sem que a virtude e dignidade apareça no receptor ou no doador. É um desejo de melhorar as condições sem melhorar as pessoas.
Aqui está precisamente onde Francisco tem gerado algumas dúvidas. Ele tem uma abordagem muito casual e informal tanto para o ofício dele como para adoração. A informalidade pode ser um dom, um sinal de cortesia alta, fazendo com que aqueles ao seu redor se sintam em casa, e preparando-os para receber a sua mensagem. Interações de Francisco com os fiéis fizeram isso evidente, e seu magnetismo provou deslumbrante. No domingo passado eu não podia nem entrar na praça para o Angelus; registros oficiais colocar as multidões em mais de 300.000. Há um problema, porém, quando essa informalidade e personalidade é injetado em um ofício e, particularmente, na liturgia. A liturgia deve ser um apagamento de si mesmo, especialmente para o homem que está no altar, na pessoa de Cristo. A personalidade do sacerdote deve ser subordinada à comunicação da verdade, bondade e beleza, que pode e deve caracterizar cada celebração litúrgica para que dê frutos reais na Igreja.
São Francisco também estava ciente disso, e não retirou nada do esplendor da Divina Liturgia. De fato São Francisco reserva suas palavras mais duras não para aqueles que oprimem os pobres ou corrompem o meio ambiente, mas para aqueles que se recusam a tomar cuidado adequado com a Eucaristia e os paramentos que cercam sua adoração.
O mundo vai reconhecer uma Igreja que se preocupa com os marginalizados, e promove a sua dignidade. Ele vai reconhecer uma Igreja que preserva a beleza e a cultura de séculos, porque representa o melhor do que significa ser humano. Ele também reconhece que incessantemente proclama a verdade sobre Deus, o mundo, e da pessoa humana. Nunca devemos quebrar essa tríade sagrada. Nós nunca devemos definir os pobres contra a liturgia, ou doutrina contra a justiça social. A Igreja Católica é a guardiã das riquezas da civilização humana para o mundo, em sua arte, literatura, teologia, filosofia, liturgia, arquitetura, seu trabalho intelectual. Estes são a herança dos pobres, a única herança que eles já tiveram. A ironia é essa: é a mais rica herança de todos. Nós não devemos desperdiçá-la em seu nome.
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O texto de Prudlo é maravilhoso, merece ser lido na íntegra.
Rezemos pelo Papa Francisco.
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4 comentários:
Meu caro Pedro, estou aprendendo Latim na faculdade e estranhei ao ver "Sacramentum Caritates" traduzido por Sacramento da Caridade. Acho que há um erro de transcrição, pois Caritas (forma nominativa da palavra) deveria estar no genitivo, ou seja, Caritatis. Sei que isso pode parecer supérfluo, mas eu amo a língua latina e adoraria que você fizesse a correção.
Você tem razão, Martim. Muito obrigado. Vou corrigir.
Eu gostaria de estudar latim, também.
Abraço,
Pedro Erik
Pedro Erik,
A editora Saraiva lançou a Gramática Latina do Napoleão Mendes de Almeida, COM AS RESPOSTAS DAS MAIS DE 100 LIÇÕES. Agora é possível estudar latim. Logo começo a estudar por esse livro.
Abraço,
Rodrigo Adem
Boa dica, Rodrigo. Preciso disso.
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