segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Líbia - Lutará até a última bala?




O filho de Kaddafi, Seif el-Islam, foi na TV estatal ontem para dizer que o pai está liderando a batalha em Trípoli contra os manifestantes, que a Líbia não é a Tunísia, nem o Egito e que o exército está com o governo e "lutará até o último homem, a última mulher, e a última bala".

Mas já há casos do exército abandonar o governo. Em Benghazi, cidade que foi dominada pelos manifestantes, o exército parece que se juntou aos revoltosos. A guerra civil agora é em Trípoli. Seif promete reformas, mas a população não se convenceu.

O caos é completo, apoiadores de Kaddafi e revoltados se matam nas ruas, prédios do governo são incendiados, cidades são dominadas pelos manifestantes e tiros são ouvidos a todo momento. Muitas agências de notícias dizem que já há mais de 200 mortos.

Kaddafi (o "cachorro louco do Oriente Médio" nas palavras de Reagan) está no poder desde 1969, domina o país com mão de ferro e é acusado de financiar vários atentados terroristas (o  mais famoso deles foi a explosão do avião da Pan Am em 1988 que ia de Londres a Nova Iorque, matando 270 pessoas). Kaddafi quis implantar uma espécie de islamismo misturado com comunismo (governo popular). Já vi gente dizer que não existe mistura de Islã com comunismo, pois é. No mínimo, os comunistas e os terroristas islâmicos querem algumas coisas em comum: destruir os Estados Unidos e o capitalismo.

Mas Kaddafi tem se aproximado do mundo ocidental após os ataques de 11 de setembro, prometendo combater a al-Qaeda e permitir inspeções de suas armas por agentes internacionais. Os Estados Unidos reataram as relações diplomáticas com a Líbia em 2006. Em 2008, Kaddafi assinou um acordo de cooperação com a Itália, que pagará compensações a Líbia pelo domínio do país antes da Segunda Guerra. As relações de Kaddafi com os grupos terroristas têm se deteriorado.

A Líbia é rica em petróleo, o país é membro da OPEP, e fornece boa parte do combustível para a Europa. Os problemas lá devem ter um considerável impacto na economia mundial. Em matéria religiosa, 97% da população da Líbia é muçulmana sunita, o que dá certa estabilidade. Não é como o Bahrein ou Iraque que há divisões entre xiitas e sunitas.

Kaddafi fez um discurso, depois da queda de Mubarak, que mostrei aqui, no qual tenta se alinhar com aqueles que querem a destruição de Israel e do mundo ocidental. Perguntei se ele estava querendo afastar a oposição ao seu próprio regime e acabei concluindo que as palavras de Kaddafi falavam ao coração dos povos islâmicos. Mas ele já vinha com relações complicadas com o mundo islâmico pela sua aproximação do ocidente desde 2001. Então, parece que sua fala foi desconsiderada. Apesar do histórico terrorista e assassino e pela ditadura doméstica,  a queda dele pois significar mais um perda perigosa para ocidente. 

O mundo islâmico não conhece a democracia, a pobreza não estimula formação de governos democráticos (e sim "pais do povo"), e a questão religiosa é muito preocupante na região do Oriente Médio. O mundo ocidental deveria tentar manter Kaddafi? Ou tentar um acordo com o exército para dominar o país sem Kaddafi? Que tipo de exército temos na Líbia? O exército não gerará apenas um novo Kaddafi que talvez seja mais belicoso? Quem tem as respostas?

Há muita gente pedindo a cabeça de Kaddafi agora. O "cachorro louco" merece sair pelas portas dos fundos da história, matou muito gente, fora e dentro da Líbia. Mas ninguém sabe dizer para quem entregar.

Nenhum comentário: