segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Nova Carta Denuncia Abuso Sexual no Peru do Tempo do Bispo Prevost (Papa Leão XVI)


Durante o pontificado de Francisco, três supostas vítimas de abusos sexuais por parte de padres denunciaram o fato ao então bispo Robert Prevost, hoje Papa Leão XIV. Mas nada aconteceu, e elas escreveram, em outubro de 2024, diretamente a Francisco, acusando Prevost de negligência (pode-se ler a carta delas clicando aqui). As supostas vítimas mencionam dois padres: Eleuterio Vàsquez Gonzales (na foto acima com o então bispo Prevost) e Ricardo Yesquén Paiva. Mas agora as acusações se concentram em Eleutério, que é conhecido como Lute 

Neste mês, o Papa Leão XVI resolveu dispensar o padre Lute de suas funções, sem realizar qualquer julgamento do caso.

As vítimas reagiram novamente e, ontem, divulgaram uma nova carta. Traduzo a carta abaixo:

Chiclayo, a carta de acusação das vítimas de abuso

Em 13 de novembro de 2025, a Igreja nos informou por escrito que o Papa concedeu a dispensa do estado clerical ao padre de Chiclayo, Eleuterio Vásquez González, que abusou sexualmente de nós quando éramos crianças.

Essa decisão significa que os fatos que relatamos — que nunca foram sequer minimamente investigados pela Igreja — permanecerão definitivamente sem solução.

Com essa dispensa, não haverá investigação canônica, nenhum processo, nenhum julgamento. E, portanto, nunca haverá justiça nem verdadeira reparação moral.

Em uma reunião em 23 de abril de 2025, essa dispensa nos foi apresentada como algo positivo, aproveitando-se do fato de não termos sido assistidas por um advogado canônico. Mas as vítimas de abuso, assim como as instituições que deveriam protegê-las, sabem que a reparação só pode ser construída sobre a verdade, sem truques ou enganos. Evitar investigações e arquivar casos por meio de dispensas que impedem um julgamento penal canônico é um caminho que jamais deveria ser trilhado, pois deixa desprotegidos aqueles que tiveram a coragem de se manifestar e buscar alívio em meio à sua dor — algo extremamente difícil e pessoalmente exaustivo.

Somente após investigar, julgar e proferir uma sentença é possível tomar decisões responsáveis ​​em relação à situação de um padre abusador. Agir precipitadamente causa sofrimento e confusão indescritíveis. As vítimas são frequentemente questionadas e estigmatizadas, acusadas de mentir e sujeitas à perseguição pública. A ausência de uma investigação e de uma sentença que corrobore nossa denúncia nos deixa indefesos diante das acusações que enfrentamos ao tomarmos essa medida. Como podemos encorajar as vítimas a denunciarem se elas ficarão expostas sem que seus casos sejam investigados?

Em nosso caso, essa decisão é ainda mais dolorosa porque a própria Igreja reconheceu erros graves e negligência por parte das autoridades envolvidas, incluindo o responsável original pelo caso, o Bispo Robert Prevost:

“A investigação preliminar foi uma piada. Muito mal feita. Com erros formais, inclusive” (Giampiero Gambaro, sacerdote e instrutor do processo, 23 de abril de 2025).

No entanto, tivemos que testemunhar como, nos últimos meses, alguns meios de comunicação e jornalistas influentes manipularam nosso depoimento para encobrir esses erros.

Conceder uma dispensa a Eleuterio Vásquez também é especialmente irresponsável, visto que há testemunhas que declararam publicamente à imprensa que ele frequentemente levava outras crianças para o mesmo quarto onde fomos abusadas. Essa informação, que deveria ter soado o alarme, exigia uma investigação profunda e urgente — não o arquivamento definitivo do caso.

É incompreensível que, em vez de buscar a verdade e reparar as vítimas, tenha sido tomada a decisão de encerrar o caso por meio de uma graça papal que exime o abusador da responsabilidade que lhe cabe, deixando-nos em uma situação vulnerável, sem reparação, onde a única coisa que nos é oferecida é o pagamento de terapia.

Apesar dessa situação, continuaremos a defender que atalhos jamais devem ser usados ​​para impedir o acesso à verdade. As vítimas de abuso na Igreja Católica têm direito à justiça. E a justiça exige transparência, investigação e um compromisso real com aqueles que sofreram.

Por essa razão, anunciamos:

- A abertura de ações judiciais perante as autoridades canônicas competentes contra todos os funcionários eclesiásticos que participaram ou foram responsáveis ​​por esses atos de negligência.

- A apresentação formal do nosso caso às associações de vítimas em todo o mundo, para que seja ouvido e para que possamos trabalhar juntos por uma mudança real dentro da Igreja.

- A comunicação imediata do caso à Comissão para a Proteção de Menores do Vaticano, solicitando que analisem o ocorrido e tomem medidas em resposta à violação que sofremos.

- O pedido de uma audiência pessoal com o Papa, para explicar a dor que situações como esta causam às vítimas e para pedir-lhe uma mudança de rumo na forma como a Igreja lida com casos de abuso.

 

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Rezemos pela Igreja.

3 comentários:

Anônimo disse...

Diante das frequentes omissões da parte da Igreja, penso que as vítimas deveriam recorrer primeiramente à polícia. Mas as vítimas preservam a Igreja, buscando primeiro um processo canônico, para então serem tratadas com desprezo, como se fossem elas as criminosas. Mas Deus fará justiça!

Adilson disse...

Ola, dr Pedro.
Uma pequena observação:
no trecho "... acusando Prevost de negligência (pode-se ler a carta delas clicando aqui)", ao clicar, somos conduzidos à posta recente do blog. Dessa forma, não dá pra acessarmos a carta de outubro de 2024 direcionada a Francisco.

Pedro Erik Carneiro disse...

Obrigado, meu amigo. Acho que corrigi. Abraço.