quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O Princípio do Duplo Efeito em Favor de Trump (sobre o aborto)

 


Estou fazendo novo doutorado, dessa vez em Filosofia, e minha tese de doutorado trata muito do que se chama Princípio do Duplo Efeito (ou Doutrina do Duplo Efeito). Em geral se considera que esse princípio foi trazido por Tomas de Aquino, apesar de eu mostrar na tese que Agostinho tinha tratado vagamente sobre o tema bem antes.

Em geral se usa esse Princípio para tratar de assassinatos ou guerra, mas há outras aplicabilidades. Minha tese é sobre guerra, mas estou pensando em artigo em que uso o Princípio para finanças públicas. 

Ontem vi um post de um padre usando o Princípio para defender Trump.

A questão é a seguinte por lá:
  
Trump, no primeiro mandato, fez um feito inacreditável em favor do movimento pró-vida, derrubou a lei federal em favor do aborto (Roe vs Wade). Um feito inacreditável esperado há décadas pelos cristãos. Mas agora ele está em busca do segundo mandato, depois de ver que a parte da popualção que ele tem menos votos é a parte de mulheres solteiras, justamente porque elas querem ter a liberdade de matar seus filhos em suas barrigas. 
 
Trump então anda falando de "direito de reproduação" e em deixar a questão do aborto para os estados decidirem.

Isso tem feito gente como Lila Rose ou Edward Feser declararem que não podem votar em Trump.

Eu acho que eles erram ao dizer que Trump obrigatoriamente deve ser um candidato pró-vida que os Estados Unidos nunca teve, nem tem, um candidato que defende a vida em qualquer circunstância. O que quero dizer é o seguinte: sim, Trump erra, mas não há outra alternativa, não teve, nem tem ninguém com força popular suficiente para ser eleito com a pauta pró-vida em todos os ângulos. Todos os outros candidatos que o Partido Republicano teve na história que enfrentaram ao final o candidato do Partido Democrata diziam que eram contra o aborto, mas o que eles queriam dizer é aquilo que Bolsonaro fez no Brasil. Isto é, nada. Simplesmente prometiam não estabelecer políticas em favor do aborto, só isso, enquanto permitia os ministério da saúde espalhar cartilhas em favor do aborto.

O padre, chamado Celatus, usou o Princípio do Duplo Efeito, para defender o voto em Trump, em relação a isso.

O texto do padre está no site The Remnant e foi resumido no post de Michael Matt. Vou traduzir o resumo do post:

Um padre católico pondera sobre as preocupações morais em torno da eleição:

"São Tomás de Aquino e outros teólogos morais católicos identificaram quatro condições de duplo efeito:
1) A escolha ou ação em si deve ser moralmente boa ou moralmente indiferente
2) A(s) consequência(s) má(s) não deve(m) ser diretamente pretendida(s) pela pessoa
3) O bom efeito não pode surgir como consequência direta do efeito mau
4) O efeito mau não intencional não pode ser desproporcional ao bem pretendido

Agora, vamos aplicar o princípio do duplo efeito às eleições civis, especificamente, ao candidato Donald Trump. Quanto à primeira condição, votar em si pode ser um ato virtuoso, na medida em que faz parte do patriotismo, e se alguém votar em Trump com base em suas boas qualidades e esperança razoável para o bem, seria moral. Quanto à segunda condição, não desejamos ou pretendemos seus recentes compromissos sobre aborto e questões gays. Quanto à terceira condição, estamos votando em um candidato e não em uma plataforma ou política específica, como apoio ao aborto ou direitos gays. Se fôssemos obrigados a assinar uma declaração juramentada de que concordamos com tudo o que um candidato apoia, então não poderíamos votar em Trump, mas não há tal exigência ou expectativa. Quanto à quarta condição, tudo se resume a se temos uma expectativa realista de que Donald Trump fará muito mais bem religiosamente, moralmente e constitucionalmente para o país do que qualquer mal que ele faça. Com base em seu desempenho passado como presidente, podemos ter esperança razoável de que o bem superará o mal."


2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Prof. Pedro, de certa forma, esse tema está ligado ao tema do blog anterior, ou seja, o da islamização do ocidente. Aquelas que apoiam o aborto, mais cedo ou mais tarde (a previsão é de 30 anos) poderão sofrer consequências terríveis, pois, a taxa de natalidade dos muçulmanos é absurdamente maior do que a do ocidente. Assim, é melhor essas mulheres já irem se preparando para usar uma burca e a cozinharem para seus maridos.

Anônimo disse...

Ótimo comentário! Eu ri muito, apesar de ser uma cruel realidade!