sexta-feira, 7 de março de 2025

Simpatia com o Demômio


Há uma música dos Rolling Stones, chamada Sympathy for the Devil, cuja letra acaba sendo muito boa em termos teológicos, para uma música de rock. Na música, o demônio se apresenta, como um "homem de bom gosto e rico" que, entre outras coisas, matou o Czar da Rússia (o comunismo nasceu com o assassinato do Czar Nicolau II em 1918).

A Doutrina Católica é uma vestimenta sem costura, é delicada. Durante, um tempo alguns defenderam o que se chamou de "casuísmo", ver caso a caso para saber se a pessoa merece o perdão ou não. Mas pensadores importantesviram o diabo nesse tipo de coisa, como o católico Blaise Pascal.

A Doutrina Católica se fundamenta nos dez mandamentos, não se pode matar, por exemplo, mas há casos sim que a morte é permitida (salvar a própia vida, salvar a família ou o próximo, ou mesmo em nome de Deus). A regra não se deve matar um inocente é quase absoluta, mas a morte de inocentes é meio que permitida em casos que essas mortes são previstas mas não desejadas (ver a Doutrina do Duplo Efeito de Tomás de Aquino). Como acontece ao se atacar fábricas de armamentos do inimigo em guerra, e cujo ataque acabe a matar inocentes. Nao se pode abortar, mas em casos de extrema gravidade em que a vida da mãe está em jogo, há possibilidade, desde que a mãe consinta, de se realizar o aborto.  

E há ações que são proibidas absolutamente, não há circunstância que permita que sejam feitas, uma delas é a sodomia. Não há circunstância que permita sodomia. Aliás, a filósofa católica Elizabeth Anscombe, ao discutir quando se pode matar, usa justamente a sodomia para dizer que existem sim regras absolutas.

Mas a Doutrina Católica não é caso a caso, as circunstância em que se podem matar são muito limitadas e dificeis, ao ponto de que o mandamento continuar válido. 

A Igreja, especialmente nos dias de hoje, deve ressaltar a regra e não os casos mínimos que se pode permitir uma ação maligna. 

Mas o que fez o homem da foto, cardeal Victor Manuel Fernández, que lidera o organismo da doutrina da Igreja? 

Ao falar sobre cirurgias de troca de gênero em crianças, disse, “há casos fora da norma, como fortes disforias que podem levar a uma existência insuportável ou até mesmo ao suicídio. Essas situações excepcionais devem ser avaliadas com muito cuidado.”

O que ele disse, para mim, revela simpatia pelo demônio, e não pela Igreja, ou pela Doutrina, ou por Deus.



5 comentários:

Alex A. Biral disse...

Bom dia!

Eu sou um leitor aqui do Blog já a bastante tempo. Uma das coisas que o senhor mencionou, porém, me pareceu errada. A saber, que se pode de maneira justificada matar um inocente sob quaisquer circunstâncias de maneira intencional. De fato, diria que isso é pior que a sodomia.

A questão da morte de um inocente, pelo que entendo, não se deve a quaisquer situações que a permitam; nem o uso do "duplo efeito" é suficiente para permití-lo, a não ser que permitamos 99% dos assassinatos juntos.

Quando usamos uma justificação por duplo efeito, pelo que entendo da teologia moral da questão, este não pode de forma alguma justificar um mal intrínseco. Por mal intrínseco, temos em particular qualquer ato que vai de contra algum dos mandamentos.

Ora, poderíamos dizer, então como podemos justificar a auto-defesa por isso? A auto-defesa realmente pode terminar em morte (mas, note, não de uma pessoa que presumimos inocente). Porém, não é necessário que termine em morte. A morte do atacante não é o alvo da auto-defesa nem é necessária para que nos defendamos dele.

Assim, o que o duplo efeito nos permite fazer não é cometer um ato mal para obter um resultado bom, mas criar um risco de que algo ruim aconteça se for a única solução que possamos imaginar. Desta forma, entrar com um exército em uma cidade pode ser justificado pelo duplo efeito, se realmente não temos uma maneira melhor de parar o inimigo e este inimigo realmente é uma ameaça séria. Claro que o exército ainda deve tomar todas as precauções necessárias para evitar mortes desnecessárias. Por outro lado, o duplo efeito não justifica, por exemplo, o bombardeamento das mesmas. O bombardeamento de uma cidade, mesmo que pare destruir um alvo bélico, causará certamente a morte de muitos inocentes, e de fato o bombardeamento só funcionará se houverem tais mortes. Se nenhum inocente morreu, só pode ser porque as bombas falharam em explodir. Desta forma, a morte de inocentes está aceita na intenção de bombardear a cidade e as pessoas que planejaram tal coisa são culpadas de quebrar o quinto mandamento.

De fato, pelo que entendo, a morte de um inocente não pode ser justificada nem mesmo em situações onde a gravides de uma mulher põe em risco ambas as vidas, apesar de tais casos terem sido usados para justificar tais ações.

Pedro Erik Carneiro disse...

Meu caro Alex, você não entendeu. Eu não disse que se pode matar inocente.
Falei o contrário.
Eu disse: "A regra não se deve matar um inocente é quase absoluta."
Isto é, matar inocente é proibido quase absolutamente, a não ser em casos não intencionais, apesar de previstos.
Abraço

Adilson disse...

Ola, Dr Pedro.
Ja vi esse homem da foto, cardeal Victor Manuel Fernández, em alguns pronunciamentos e o considerei com um aspecto muito cínico e apático para a verdadeira Doutrina da Igreja. Isso sem falar em suas desculpas, até mentiras, sem sentido sobre aquela questão da tal "bênção" para casais homossexuais. Sempre que vejo essa gente logo me vem à mente as famosas estratégicas dos líderes revolucionários (liberais/comunistas) de sempre optar por colocar pessoas moralmente apodrecidas no corpo de suas lideranças.

Alex A. Biral disse...

Dr. Pedro.

Em primeiro lugar, peço desculpas se meu comentário pareceu desnecessariamente combativo. Falei demais e temo não ter tido o devido controle do tom do texto.

Em segundo lugar, quero pedir desculpas por não ter entendido o seu sentido. O tópico do duplo efeito é algo que acho muito interessante, mas também vejo esta doutrina abusada em muitos lugares. Talvez por isso mesmo tenho a tendência de ver confusão onde não há nenhuma.

De qualquer forma, obrigado pela resposta cordial e uma santa quaresma para o senhor.

Pedro Erik Carneiro disse...

Meu caro Alex, "vivere militare est" (viver é lutar). Seja sempre combativo, não se preocupe.

Grande abraço,
Pedro Erik