Aprenda sobre a Catalunha com um especialista realmente confiável. Saiba como a Catalunha se insere na história da formação da Espanha até os problemas políticos dos nossos dias.
Eu pedi ao Fuentecalada que escrevesse
para o blog sobre a Catalunha, desde a história dessa região até as recentes
tentativas de independência. As ações políticas do momento na Catalunha podem ter efeitos
perversos, estimulando o caos de separatismos em muitos países. Fuentecalada
sabe tudo sobre a Espanha (trust me) e concordou em escrever em quatro partes para o blog.
Leiam a primeira parte abaixo:
Catalunha – antecedentes.
Autor: Fuentecalada.
17/10/2017
Jordi Bilbeny, publicou em 2010 um
livro intitulado "El
ditd'en Colom: Catalunya, l'Imperi i la primera colonització americana,
1492-1520 [O dedo de Colombo: Catalunha, o
Império e a primeira colonização americana]", no qual sustenta não só que
Cristóvão Colombo nasceu em Barcelona, mas que se chamava Joan Colom e
que, na realidade, era embaixador da “Generalitat”, que teria sido a
responsável pela organização política da América em vice-reino, “fatos” que,
segundo alega, teriam sido encobertos pela “censura” espanhola. Bilbeny também
afirma que Santa Teresa D’Ávila, sendo ela catalã de origem, teria
sido abadessa no mosteiro de Pedralbes em Barcelona, atribuindo o relato de seu
nascimento na cidade de Ávila a “uma invenção do Concílio de Trento”. Ainda
segundo Bilbeny, Miguel de Cervantes, também natural da Catalunya,
escreveu originalmente “El Quijote” em catalão, claro, baseando-se em “texto”
original que nunca foi encontrado. Bilbeny agrega um grupo de “historiadores”
no “Institut Nova Història”, que se dedica
a reescrever o que chamam de “história censurada” da Catalunha, na qual também
se fazem catalães, entre outros, Américo Vespúcio, Santo Inácio de Loyola e até
mesmo Leonardo da Vinci, cuja paisagem de fundo na Monalisa reproduziria
a montanha de Montserrat... “Historiadores” com criatividade própria de samba-enredo,
mas que fariam corar até o nosso Stanislaw Ponte Preta...
Conquanto o ridículo atroz de tais
disparates nos faça rir, constituem o cerne da abordagem histórica apresentada
no material didático que atualmente é distribuído nas escolas da região sob a
tutela das instituições locais, sendo úteis para nos ajudar a entender o estado
de espírito rancoroso e delirante que transbordou nas ruas de Barcelona no
recorrente “procés” independentista e na construção ideológica de uma
tradição inventada e de um falso fenômeno em busca de reconhecimento: a catalonofobia.
O chamado “nacionalismo catalão” pode
ser considerado um reflexo tardio e algo exótico da vaga revolucionária e da
exacerbação “nacionalista”, que marcaram a Europa em meados do século XIX,
sendo então declaradamente influenciado pelo risorgimento italiano.
Contradição curiosa. O risorgimento era movido pela causa de
reunificação política da península italiana. O “nacionalismo catalão” pelo
separatismo regional. Coerência nunca foi o forte dos movimentos
revolucionários.
A criação de uma “identidade catalã”,
sediada em Barcelona, em realidade resulta de um persistente processo de
“reelaboração” histórica, cuja origem remonta ao surgimento da corrente
intelectual “Los Renaxentistas”, em meados do século XIX, cujo resultado
mais emblemático reside no controle férreo que os intelectuais
independentistas e a “Generalitat” de Barcelona buscam exercer sobre os
documentos do “Archivo de la Corona de Aragón”.
Já em 1847, o então diretor do
Arquivo, Próspero de Bofarull i Mascaró, um dos expoentes do movimento
"Renaxentista", perpetrou o que hoje em dia, em círculos
acadêmicos descolados, se passou a chamar de “desconstrução” do
passado. Bofarull, simplesmente, adulterou o “Llibre del Repartiment del
Regne de València”, relato medieval que descreve
a reconquista de Valência em 1238, passando a atribuir ao feito o caráter de
uma epopeia puramente catalã, revestida de significados místicos e
personagens mitológicos. A falsificação veio à luz pelo filólogo e
historiador medievalista Antonio Ubieto (1923-1990).
Os recentes acontecimentos em
Barcelona chamaram a atenção para o quadro político espanhol e a questão do
separatismo catalão. Como é usual, a mass media brasileira
pouco oferece em informação que permita analisarmos os fatos, não sendo
admitido nada além do engajamento militante na “causa”, o que nos é proposto a
cada situação que nos apresentam como sendo mais um “movimento de libertação”.
Entretanto, cabe esclarecer que a
região da Catalunha, historicamente, jamais se organizou na forma de uma nação
ou reino independente. O chamado idioma catalão é
apenas mais uma das variações do latim vulgar (rusticam Romanam
linguam) que deu origem às línguas francesa, italiana, portuguesa
e espanhola e dialetos locais, durante o período em que a região denominada
de Hispania, que abrange atualmente os territórios de Portugal,
Espanha, Andorra e parte do sul da França e norte da África, constituía uma
província do Império Romano, cuja diocese, desde Diocleciano, era situada no
território da Lusitânia, na atual cidade de Mérida.
Após a desagregação do Império e o fim do período de dominação dos visigodos, a península foi devastada pela invasão muçulmana no início século VIII. No ano de 801, o império carolíngio reconquistou Barcelona, localidade até então sob o domínio do emirado de Córdoba e que se tornaria sede de um dos diversos condados feudais dependentes dos monarcas carolíngios que constituíam a chamada “Marca Hispánica”, região que, juntamente com o Reino de Navarra e as províncias vascongadas, constituía uma barreira defensiva e de fronteiras voláteis entre os domínios muçulmanos e o Império dos francos.
Após a desagregação do Império e o fim do período de dominação dos visigodos, a península foi devastada pela invasão muçulmana no início século VIII. No ano de 801, o império carolíngio reconquistou Barcelona, localidade até então sob o domínio do emirado de Córdoba e que se tornaria sede de um dos diversos condados feudais dependentes dos monarcas carolíngios que constituíam a chamada “Marca Hispánica”, região que, juntamente com o Reino de Navarra e as províncias vascongadas, constituía uma barreira defensiva e de fronteiras voláteis entre os domínios muçulmanos e o Império dos francos.
Mapa - Etapas da Reconquista
O condado de Barcelona foi
dinasticamente unificado ao Reino de Aragão em 1137. Com a unificação dos
Reinos de Aragão e Castela, pela união em matrimônio dos reis católicos Fernão
e Isabel, em 1469, e a consolidação da Reconquista em 1492, tem início a
Espanha moderna, tal como se configura hoje no território da Península Ibérica.
Um comentário:
Já vi comentarios que os catalães sempre prefeririam as esquerdas - caso do RJ nosso, o mais anárquico do Brasil, sempre privilegiando caóticos marxistas no poder - e facilitando desde uns à la Brizola até a um Cabral e mais sanguessugas, assim como aqueles.
Combustível para tal não faltaria; bem que poderia ser o começo em escala ascendente do povo x povo, nação x nação...
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