sábado, 3 de setembro de 2022

Cardeal Conservador Critica Número de Cardeais e a Renúncia de Bento XVI. E faz Sugestões sobre como eleger um Papa.

 


O cardeal alemão Walter Brandmüller, que já tem 93 anos e tem enorme experiência dentro da Igreja, criticou fortemente:  

1) o número de cardeais que temos hoje em dia, 

2) o modo como os cardeais de se comportam frente ao papa (silenciando); 

3) o modo que o papa usa os cardeais (sem qualquer diálogo) e 

4) o modo que Bento XVI renunciou; e

5) a eleição de Francisco de forma indireta, ao sugerir que foi eleito por cardeais que sofreram lobbies.

Além disso, ele fez excelentes sugestões de como se deveria eleger um papa e forma um colégio de cardeais..

Brandmüller foi um dos cerca de 197 cardeais que se reuniram em Roma esta semana para uma reunião de 29 a 30 de agosto dos cardeais do mundo para discutir a recente reforma da Cúria do Papa Francisco. Na oportunidade, Francisco nomeou 20 novos cardeais.

Brandmüller é um dos principais críticos de Francisco e um dos quatro que assinaram em 2016 a Dubia, questionando a exortação apostólica pós-sinodal de Francisco, Amoris Laetitia. Dos quatro que assinaram, apenas  Brandmüller e o cardeal americano Raymond Burke ainda estão vivos.

O texto de Brandmuller foi originalmente publicado pelo jornalista Sandro Magister, em italiano, no blog Settimo Cielo. Vou traduzir o que disse Brandmuller no post do blog (o texto teve repercussão em inglês, que foi divulgado pelo site Crux por Elise Allen).


Exclusivo. Brandmüller no consistório: o papa quer calar a boca dos cardeais


NÃO AO SILÊNCIO IMPOSTO, MAS "APERITIO ORIS"

A intervenção do Cardeal Walter Brandmüller para o consistório de 29 a 30 de agosto de 2022

A convocação de um consistório depois de muito tempo motiva uma reflexão sobre a natureza e a tarefa do cardinalato, especialmente nas circunstâncias atuais. Deve-se enfatizar também que os cardeais não são apenas membros do conclave para a eleição do sumo pontífice.

Os verdadeiros deveres dos cardeais, independentemente de sua idade, são formulados nos cânones 349 e seguindo o código de direito canônico. Nele se lê: "auxiliam o Romano Pontífice tanto atuando colegialmente quando são convocados para tratar de assuntos de maior importância, como individualmente, isto é, nos diversos cargos que ocupam, prestando-lhe o seu trabalho no cuidado especialmente diário dos a Igreja universal". E o papa "ajuda principalmente nos consistórios" (cânon 353).

Essa função dos cardeais na antiguidade encontrou expressão simbólica e cerimonial no rito do “aperitio oris”, de abrir a boca. De fato, significava o dever de expressar a própria convicção, o conselho, especialmente no consistório. Essa franqueza – o Papa Francisco fala de “parresía” – que era particularmente cara ao apóstolo Paulo.

Por enquanto, infelizmente, essa franqueza está sendo substituída por um estranho silêncio. Essa outra cerimônia, o fechamento da boca, que se seguiu ao "aperitio oris", não se referia às verdades da fé e da moral, mas aos segredos do ofício.

Hoje, porém, deve-se enfatizar o direito, mesmo o dever, dos cardeais de se expressarem com clareza e franqueza precisamente quando se trata das verdades da fé e da moral, do "bonum commune" da Igreja.

A experiência dos últimos anos tem sido bem diferente. Nos consistórios - convocados quase exclusivamente para as causas dos santos - distribuíam-se cartões para pedir a palavra, e obviamente se seguiam intervenções espontâneas sobre qualquer assunto, e pronto. Nunca houve um debate, uma troca de argumentos sobre um tema específico. Obviamente, um procedimento completamente inútil.

Uma sugestão apresentada ao cardeal reitor para comunicar antecipadamente um tema para discussão para que quaisquer intervenções pudessem ser preparadas ficou sem resposta. Em suma, os consistórios por pelo menos oito anos terminaram sem qualquer forma de diálogo.

O primado do sucessor de Pedro, porém, não exclui de modo algum um diálogo fraterno com os cardeais, que "são obrigados a colaborar assiduamente com o Romano Pontífice" (cânon 356). Quanto mais graves e urgentes são os problemas de governo pastoral, tanto mais necessário é o envolvimento do colégio cardinalício.

Quando Celestino V, em 1294, percebendo as circunstâncias particulares de sua eleição, quis renunciar ao papado, o fez após intensas conversas e com o consentimento de seus eleitores.

Uma concepção completamente diferente da relação entre papa e cardeais foi a de Bento XVI, que – um caso único na história – renunciou ao papado, por motivos pessoais, sem o conhecimento do colégio de cardeais que o elegeu.

Até Paulo VI, que aumentou o número de eleitores para 120, havia apenas 70 eleitores. Esse aumento do colégio eleitoral para quase o dobro foi motivado pela intenção de atender a hierarquia de países distantes de Roma e homenagear essas igrejas com a púrpura romana.

A consequência inevitável foi que foram criados cardeais que não tinham experiência da Cúria Romana e, portanto, dos problemas do governo pastoral da Igreja universal.

Tudo isso tem sérias consequências quando esses cardeais periféricos são chamados a eleger um novo papa.

Muitos, se não a maioria dos eleitores, não se conhecem. No entanto, eles estão lá para eleger o papa, um deles. É claro que essa situação facilita as operações de grupos ou classes de cardeais para favorecer um de seus candidatos. Nesta situação, o perigo da simonia em suas várias formas não pode ser excluído.

Ao final, parece-me que a ideia de limitar o direito de voto no conclave, por exemplo, aos cardeais residentes em Roma, merece séria reflexão, enquanto os demais, ainda cardeais, poderiam compartilhar o "status" de cardeais com mais de oitenta anos.

Em suma, parece desejável que o ofício e a competência do colégio cardinalício sejam atualizados.



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