Por vezes o debate na internet lembra a foto acima, um grita contra o outro, xinga o outro, não se ouve os argumentos, apenas xingamentos. Muito especialmente quando o debate envolve questões morais, sobre a existência de Deus, aborto, eutanásia e casamento gay. Mas também discussão sobre Israel e Palestina, e, no Brasil, sobre Lula e FHC.
Chesterton dizia que "todo argumento é um argumento teológico". As discussões que envolvem Israel e Palestina sempre envolve a Bíblia e o Deus judeu versus Alá. Outro dia, eu li um excelente artigo da escritora Bat Ye'or. Ela visitou o excepcional Museu Britânico e mostra que muitos dos monumentos fantásticos de mil anos antes de Cristo que contam a história bíblica de Israel são nomeados como contando uma "história da Palestina", mesmo sabendo que o que chamamos de Palestina foi nomeado apenas no ano 135 depois de Cristo. Além disso, ela conta que muitos historiadores não têm seus textos publicados hoje em dia, simplesmente por respeitar a história bíblica, comprovada por monumentos, e chamar de Israel (ou Judeia) aquela terra do Oriente Médio ao discutir história. Se não chamar de Palestina, não publica hoje em dia. O mundo acadêmico se dobrou para a Palestina.
As discussões que envolvem Lula e FHC têm menos aspectos teológicos, mesmo porque Lula e FHC são irmãos em teologia, apoiam aborto, casamento gay e liberação das drogas, mas, se a eleição está próxima, se consideram cristãos e até frequentam a missa. No Brasil (e na América Latina), nós não temos partidos sérios, teologicamente falando. Até comunistas são enterrados com missa (vide o caso de Oscar Niemeyer). Mas mesmo assim, o apoio aberto de Lula às experiências comunistas (com envio de dinheiro e até de lutadores de box que tentavam fugir do regime castrista), ideologia que prega o abandono de Deus, torna o voto em Lula em financiamento da ideologia comunista. FHC também sempre teve tendências marxistas, é dito que seu livro sobre a Teoria da Dependência capitalista influenciou o líder sanguinário comunista cambojano Pol Pot, quando este estudou na França. Mas, aparentemente, ele não pensa como antes.
Ontem, eu vi um vídeo em que o padre Robert Barron fala da gritaria na internet quando se discute casamento gay.
Ele cita um livro do grande filósofo Alasdair MacIntyre: After Virtue (Após a Virtude).
Vejam o vídeo do padre Barron, abaixo. Eu não vou traduzir o vídeo palavra por palavra, apenas a argumentação de Barron (em azul)
Barron cita o livro After Virtue de Alasdair MacIntyre, e diz que o MacIntyre consegue explicar muito bem o debate sobre moral atualmente. MacIntyre não fala apenas que vivemos tempos de péssimos hábitos morais, mas também que não é mais possível termos um debate sobre moral coerente. Vivemos em um ambiente tão diverso, que se perdeu completamente o vocabulário comum e um conjunto de conceitos que eram aceitos. Hoje, não se debate, não se ouve as argumentações, apenas se grita, se xinga o oponente.
A coisa é tão profunda que Barron cita uma juíza da mais alta corte de justiça americana, Elena Kagan. Kagan disse que toda vez que ver qualquer argumento moral em um texto jurídico, acende uma luz vermelha para ela. Isto é, não se pode mais ter qualquer argumento moral, tudo deve ser positivista, frio, sem qualquer aspecto que lembre a moral. Barron diz com ironia que o argumento de Kagan também é moral, por ser contra a moral.
No caso do casamento gay, Barron diz que qualquer pessoa que traga o argumento moral é logo chamado de fanático religioso ou de ter discurso do ódio contra gays.
Barron também lembra duas variáveis constantes em debates: pesquisas de opinião e sentimentalismo. Sobre o casamento gay, aqueles que defendem mostram que as pesquisas mostram que pessoas cada vez mais apoiam o casamento gay (especialmente os jovens). Barron diz que as pesquisas são importantes sociologicamente ou psicologicamente, mas não dizem nada sobre moral. Ele cita dois exemplos para mostrar isso. Em 1945, pelo menos 90% das pessoas apoiariam que se jogasse uma bomba nuclear sobre o Japão. No século 19, a maioria das pessoas apoiaria a escravidão. As pesquisas não mostram de que lado está a verdade moral.
Sobre o sentimentalismo, muitos dizem que conhecem um gay e que este gay é gente boa, então deve-se aprovar o casamento gay. Ora, o fato de uma pessoa ter um comportamento adequado e agradável socialmente também não nos diz nada sobre moral, sobre como o todo o comportamento da pessoa deve basear a sociedade. O sentimentalismo não chega nem a ser um argumento, é simplesmente um fato. Uma pessoa pode ter péssimo comportamento moral e aparentar ser ótima pessoa socialmente. E também o contrário.
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Acho que faltou apenas Barron falar por que vivemos em um ambiente diverso e como devemos combater isso. Mas isto deve ficar para outro vídeo.
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