quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Roberto de Mattei: Bento XVI era Acadêmico, Não Exerceu Autoridade. Renunciou sem Razão.


John-Henry Westen, do Life Site News, entrevistou o renomado teólogo Roberto de Mattei, considerado uma autoridade mundial sobre a história da Igreja Católica, especialmente sobre o Concílio Vaticano II. O tema da entrevista foi: qual foi o momento mais sombrio do pontificado de Bento XVI.

Traduzo abaixo o que disse de Mattei sobre Bento XVI.

De Mattei conta que foi chamado pelo então cardeal Ratzinger para um encontro entre intelectuais na França para debater liturgia, em julho de 2001. Para Ratzinger era muito importante a restauração da liturgia.

De Mattei disse que o motu proprio Summorum Pontificum de 2007 é o ponto mais alto do pontificado de Bento XVI. O documento é muito coerente com as preocupações litúrgicas de Bento XVI desde muito tempo.

De Mattei diz que seria um exagero dizer que Bento XVI se converteu depois de se comportar como especialista teológico progressista no Concíclio Vaticano II, mas que houve sim uma mudança de atitude de Bento XVI frente aos efeitos dos documentos ambíguos do Concilio. 

De Mattei disse que houve uma divisão entre os teólogos progressistas após o Vaticano II, entre uma ala mais radical e outra mais moderada. Ratzinger foi da ala moderada.  A ala moderada de Ratzinger criou a revista Communion, enquanto a ala radical criou a revista Concilium. Para a ala radical, Vaticano II deveria ser uma revolução dentro da Igreja. Enquanto os moderados desejam ver o Vaticano II como uma continuidade dentro da Igreja.  Assim temos a abordagem de Ratzinger de hermenêutica da continuidade em relação ao Vaticano II. 

De Mattei argumenta que Ratzinger, como prefeito da congregação da fé, é o autor real por trás do novo catecismo da Igreja aprovado por João Paulo II. De Mattei também lembra que Ratzinger liderou a condenação da Teologia da Libertação no pontificado de João Paulo II. 

O entrevistador ressalta,  no entanto,  que Ratzinger era muito caridoso com heréticos,  dialogava com eles, e tinha muita dificuldade em condená-los. E talvez isso facilitou sua queda, pois os heréticos ficaram em volta dele, como o cardeal Tarcísio Bertone.

De Mattei responde lembrando São Pio X que enfrentou o modernismo com a ajuda de seu secretário de Estado,  cardeal Maria del Valle. Eles enfrentaram o modernismo não apenas com teologia,  mas com santidade e boa governança da Igreja, intervindo nos seminários,  nas universidades e condenando livros heréticos.

Isso não aconteceu com Bento XVI.

De Mattei acha que Bento XVI sempre se considerou um professor,  daí até no título que se deu, papa emérito, lembra o professor emérito das universidades. Mas ele deveria saber que como papa deveria ser diferente.

Bento XVI gostava de confrontação intelectual. Logo que se tornou papa, ele recebeu Hans Kung, que de Mattei considera um dos maiores heréticos do século XX. Pio X nunca faria isso. Isso é problemático, pois nós temos que lembrar que um papa é o homem que governa a Igreja.

De Mattei criticou o fato de Bento XVI durante seu pontificado ter escrito três livros sobre Jesus Cristo. Para de Mattei um papa não deveria despender seu tempo escrevendo livros privados, haveria de governar a Igreja e especialmente condenar heresias.

Daí, de Mattei diz que concorda com cardeal Burke e com o arcebispo Schneider. O momento mais sombrio de Bento XVI é sua renúncia. De Mattei diz que até hoje a renúncia é inexplicável. De Mattei diz que muitas pessoas acreditam que haviam grandes pressões sobre ele, mas em toda a história da Igreja praticamente todos os papas sofreram grandes pressões. Enquanto o próprio Bento XVI e o seu secretário Ganswein negaram que foram as pressões que o forçaram a renunciar. Então, parece que a única razão seria que Bento XVI estava muito cansado. Mas ele morreu com 95 anos, o papa mais velho da história. Ele viveu mais como emérito do que como papa. O segundo ponto é que quando pessoas souberam da renúncia, as pessoas presumiram que ele iria para um monastério, sem participar da vida da Igreja. Mas ele assumiu um título desconhecido de emérito e continuou assinando como papa.  A ideia de que há dois papas na Igreja é impossível dentro da Igreja. O que aconteceu é que alguns acreditaram que o verdadeiro papa era Bento XVI. Bento XVI trouxe confusão para a Igreja.

De Mattei diz que entende que é muito estranho que sem qualquer pressão Bento XVI tenha renunciado. Mas essa é a realidade.

Para De Mattei, ele se achava cansado e viu a falha da sua ideia de hermenêutica da continuidade em conter a autodemolição da Igreja e achou que podia renunciar.

De Mattei argumenta que não se pode vencer a crise da Igreja apenas com debate teológico é preciso condenar as heresias do tempo e os heréticos. É preciso lutar com as armas da oração e da condenação. 

Então, eles passam a tratar na entrevista de como Francisco tem perseguido o clero conservador e protegido padres escandalosos. De Mattei diz que enquanto Francisco abusa de sua autoridade, se comporta como um ditador, Bento XVI nem ao menos exercia a sua autoridade.

 

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