Falei no post anterior que não tinha tempo de traduzir a carta do arcebispo Viganò ao cardeal Ouellet e consequentemente ao Papa Francisco e aí meu caro amigo tradutor Airton Vieira me enviou sua tradução, aqui vai então a tradução enviada pelo Airton.
É mais uma carta histórica do arcebispo Viganò.
Vejam abaixo em português, por Airton Vieira.
Carta do Arcebispo Carlo Maria Viganò:
Na memória dos Mártires da América do
Norte
Testemunhar a corrupção na hierarquia
da Igreja católica foi para mim uma decisão dolorosa, e segue sendo-o. Mas sou
um ancião. Um ancião que sabe que logo terá que render contas ao Juiz das próprias
ações e omissões, que teme Àquele que pode lançar seu corpo e sua alma no inferno.
Juiz que, apesar de sua infinita misericórdia, “dará a cada um segundo seus
méritos o prêmio ou a condenação eterna” (Ato de fé). Antecipando a terrível pergunta
desse Juiz: “Como pudeste, tu que sabias a verdade, permanecer em silêncio em
meio de tanta falsidade e depravação?”, que resposta poderia dar?
Me pronunciei com plena consciência
de que meu testemunho causaria alarme e consternação em muitas pessoas
eminentes: eclesiásticos, irmãos bispos, companheiros com os que trabalhei e
rezei. Sabia que muitos se sentiriam feridos e traídos. Previ que alguns deles,
ao seu tempo, me acusariam e questionariam minhas intenções. E, o mais doloroso
de tudo, sabia que muitos fiéis inocentes se sentiriam confundidos e
desconcertados pelo espetáculo de um bispo que acusa a seus irmãos e superiores
de delitos, pecados sexuais e de negligência grave para com o que é seu dever. Estou
convencido de que meu prolongado silêncio havia posto em perigo muitas almas, e
certamente havia condenado a minha. Apesar de ter informado em diversas ocasiões
meus superiores, incluso ao Papa, das ações aberrantes de McCarrick, pude
denunciar antes publicamente a verdade da que eu estava ciente. Me arrependo de
verdade se tenho alguma responsabilidade pelo atraso, que se deu devido à gravidade
da decisão que tinha de tomar e o grande sofrimento de minha consciência.
Me acusam de haver criado, com meu testemunho,
confusão e divisão na Igreja. Esta afirmação pode ser credível só para quem
considerar que dita confusão e divisão eram irrelevantes antes de agosto de
2018. Não obstante, qualquer observador desapaixonado seguramente já se havia
dado conta da prolongada e significativa presença de ambas, algo inevitável quando
o sucessor de Pedro renunciar a exercer sua missão principal, que é a de
confirmar a sus irmãos na fé e na sã doutrina moral. Quando, además, acentua a
crise com mensagens contraditórios ou declarações ambíguas, a confusão se
agrava.
Portanto, tenho falado. Porque é a
conspiração do silêncio a que tem causado e segue causando enorme dano à Igreja,
às almas inocentes, às jovens vocações sacerdotais, aos fiéis em geral. Em
mérito a esta mina decisão, que tomei em consciência ante Deus, aceito com gosto
qualquer correção fraterna, conselho, recomendação e convite que me faça para
que progrida em minha vida de fé e de amor a Cristo, à Igreja e ao Papa.
Permiti-me que os lembre de novo os pontos
principais de meu testemunho.
– Em novembro de 2000, o núncio nos
Estados Unidos, o arcebispo Montalvo, informou a Santa Sé comportamento
homossexual do cardeal McCarrick com seminaristas e sacerdotes.
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– Em dezembro de 2006, o novo núncio,
o arcebispo Pietro Sambi, informou à Santa Sé do comportamento homossexual do cardeal
McCarrick com outro sacerdote.
– Em dezembro de 2006, eu escrevi uma
Nota ao cardeal secretário de Estado Bertone, que entreguei pessoalmente ao substituto
para Assuntos Gerais, o arcebispo Leonardo Sandri, na que pedia ao Papa que
tomasse medidas disciplinares extraordinárias contra McCarrick para prevenir
futuros delitos e escândalos. Esta Nota nunca teve resposta.
– Em abril de 2008, uma carta aberta ao
Papa Bento por parte de Richard Sipe foi transmitida pelo Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Levada, ao secretário de Estado, o
cardeal Bertone, que continha mais acusações contra McCarrick por deitar-se com
seminaristas e sacerdotes. Esta carta foi-me entregue um mês mais tarde e, em maio
de 2008, eu pessoalmente apresentei uma segunda Nota ao então substituto para
Assuntos Gerais, o arcebispo Fernando Filoni, informando das acusações contra
McCarrick e pedindo sanções contra ele. Tampouco esta segunda Nota teve resposta.
– Em 2009 ou em 2010, o cardeal Re, Prefeito
da Congregação para os Bispos, me informou que o Papa Bento havia ordenado McCarrick
que cessasse seu ministério público e que começasse uma vida de oração e penitência.
O núncio Sambi lhe comunicou as ordens do Papa,ey ao fazê-lo elevou tanto o tom
de voz que foi ouvido nos corredores da nunciatura.
– Em novembro de 2011, o cardeal Ouellet,
novo Prefeito da Congregação para os Bispos, me confirmou, como novo núncio nos
Estados Unidos, as restrições impostas pelo Papa a McCarrick, e fui eu quem as
comuniquei pessoalmente, cara a cara, a McCarrick.
– Em 21 de junho de 2013, quase ao
final de um encontro oficial com os núncios no Vaticano, o Papa Francisco me
dirigiu umas palavra de reprovação e de difícil interpretação sobre o
episcopado americano.
– Em 23 de junho, o Papa Francisco me
recebeu em uma audiência privada em seu apartamento para algumas aclarações, e
me perguntou: “Como é o cardeal McCarrick?”, palavras que só posso interpretar
como uma falsa curiosidade para descobrir se eu era aliado ou não de McCarrick.
Lhe disse que McCarrick havia corrompido gerações de seminaristas e sacerdotes,
e que o Papa Bento havia imposto que se retirasse a uma vida de oração e penitência.
– McCarrick, em troca, continuou desfrutando
de uma especial consideração por parte do Papa Francisco, quem lhe confiou novas
e importantes responsabilidades e missões.
– McCarrick formava parte de uma rede
de bispos favoráveis à homossexualidade que, gozando do favor do Papa
Francisco, impulsionaram nomeações episcopais para proteger-se da justiça e
reforçar a homossexualidade na hierarquia e na Igreja em geral.
– O mesmo Papa Francisco parece, ou
ser cúmplice com a difusão de dita corrupção ou, consciente do que faz, é
gravemente responsável porque não se opõe a ela e não tenta erradica-la.
Tenho invocado a Deus como testemunha
da verdade destas minhas afirmações, e nenhuma delas foi desmentida. O cardeal Ouellet
escreveu reprovando minha temeridade por ter rompido o silêncio e haver lançado
graves acusações contra meus irmãos e superiores, mas seu reproche, em realidade,
me confirma em minha decisão e, ademais, confirma minhas afirmações, uma a uma
e em conjunto.
- O cardeal Ouellet admite que me falou da situação de McCarrick
antes que eu viajasse a Washington para tomar posse de meu cargo como núncio.
- O cardeal Ouellet admite que me comunicou por escrito as condições e
restrições impostas a McCarrick pelo Papa Bento.
- O cardeal Ouellet admite que ditas restrições proibiam McCarrick de
viajar e aparecer em público.
- O cardeal Ouellet admite que a Congregação para os Bispos ordenou
McCarrick por escrito, primeiro por meio do núncio Sambi e, depois, através
de mim, a levar uma vida de oração e penitência.
O que é que o cardeal Ouellet
questiona?
- O cardeal Ouellet questiona a possibilidade de que o Papa Francisco
tenha podido lembrar-se de informações importantes sobre McCarrick em um
dia em que havia recebido a dezenas de núncios, e no que havia dado a cada
um deles só poucos instantes de conversação. Mas não é o que eu testemunhei.
Eu testemunhei que em um segundo encontro, privado, informei ao Papa, respondendo
a uma pergunta que ele me colocou sobre Theodore McCarrick, então cardeal
arcebispo emérito de Washington, figura preeminente da Igreja dos Estados
Unidos, de que o cardeal McCarrick havia corrompido sexualmente seus próprios
seminaristas e sacerdotes. Nenhum Papa pode esquecer-se disto.
- O cardeal Ouellet questiona a existência em seus arquivos de cartas
assinadas por Bento XVI ou pelo Papa Francisco relacionadas com as sanções
impostas a McCarrick. Mas não é o que eu testemunhei. Eu testemunhei que em
seus arquivos havia documentos chave -independentemente de sua procedência-,
que incriminam McCarrick e que têm relação com as medidas tomadas a respeito
de sua pessoa, e outras provas do encobrimento de sua situação. E confirmo agora o que
testemunhei naquele momento.
- O cardeal Ouellet questiona a existência nos arquivos de seu
predecessor, o cardeal Re, de “notas de audiências” que impunham a
McCarrick as restrições citadas anteriormente. Mas não é o que eu testemunhei.
Eu testemunhei que há outros documentos: por exemplo, uma nota do cardeal non
ex-Audientia SS.mi, ou também assinada pelo secretário de Estado ou o
substituto.
- O cardeal Ouellet questiona que é falso apresentar as medidas
tomadas contra McCarrick como “sanções” decretadas pelo Papa Bento e
anuladas pelo Papa Francisco. Certo. Tecnicamente não eram “sanções”, mas
medidas, “condições e restrições”. Mas discutir se eram sanções ou medidas
ou qualquer outra coisa não é mais que puro legalismo. Sob o perfil pastoral,
são a mesma coisa.
Em resumo, o cardeal Ouellet admite
as afirmações importantes que fiz e faço, e questiona as afirmações que não faço
e nunca fiz.
Há um ponto em que devo desmentir
totalmente o que escreve o cardeal Ouellet. O cardeal afirma que a Santa Sé tinha
somente um conhecimento mediante simples “vozes”, que não eram suficientes para
poder tomar medidas disciplinares contra McCarrick. Eu afirmo, contudo, que a Santa
Sé tinha conhecimento de uma multiplicidade de fatos concretos e que estava em
posse de documentos probatórios e que, apesar disso, as pessoas responsáveis
preferiram não intervir, ou foram impedidas de fazê-lo. As indenizações às
vítimas dos abusos sexuais de McCarrick na arquidiocese de Newark e na diocese
de Metuchen; as cartas do Pe. Ramsey, dos núncios Montalvo em 2000 e Sambi em
2006, do Dr. Sipe em 2008, minhas duas Notas sobre o tema a meus superiores da secretaria
de Estado que descreviam com detalhe as acusações concretas contra McCarrick,
são só vozes? São correspondência oficial, não fofocas de sacristia. Os delitos
denunciados eram gravíssimos, e incluíam também os delitos de absolvição de seus
cúmplices em atos obscenos, com a sucessiva celebração sacrílega da missa. Estes
documentos detalham a identidade dos perpetradores, a de seus protetores e a
sequência cronológica dos fatos. Estão custodiados nos arquivos
correspondentes, não é necessário fazer ulteriores investigações para obtê-los.
Nas acusações que se verteram
publicamente contra mim observei duas omissões, dois silêncios dramáticos. O primeiro
está relacionado com as vítimas. O segundo com a causa principal de que haja
tantas vítimas, isto é, sobre o papel da homossexualidade na corrupção do sacerdócio
e a hierarquia. No que diz respeito ao primeiro silêncio, é avassalador que, em
meio de tantos escândalos e indignação, se possua tão pouca consideração por quem
foram vítimas de depredadores sexuais que haviam sido ordenados ministros do
Evangelho. Não se trata de ajustar as contas ou de uma questão de carreiras eclesiásticas.
Não é uma questão de política. Não é uma questão de como os historiadores da
Igreja possam valorar este ou aquele papado. Estamos falando de almas! A salvação
eterna de muitas almas foi posta em perigo; e seguem estando em perigo.
No que diz respeito ao segundo silêncio,
esta gravíssima crise não pode ser abordada corretamente e resolvida enquanto não
chamemos as coisas por seu nome. Esta crise está causada pela praga da homossexualidade
em quem a praticam, em suas moções, em sua resistência a que seja corrigida. Não
é uma exageração dizer que a homossexualidade se converteu em uma praga no
clero e que só pode ser erradicada com armas espirituais. É uma hipocrisia
enorme reprovar o abuso, dizer que se chora pelas vítimas e, no entanto, negar-se
a denunciar a causa principal de tantos abusos sexuais: a homossexualidade. É
uma hipocrisia negar-se a admitir que esta praga e devida a uma grave crise na vida
espiritual do clero e não buscar os meios para resolvê-la.
Existem, sem dúvida, no clero violações
sexuais também com mulheres, e também estas causam um dano grave às almas de quem
as realizam, à Igreja e às almas de quem são corrompidas. Mas estas
infidelidades ao celibato sacerdotal estão habitualmente limitadas às pessoas
diretamente implicadas; não tendem, de por si, a difundir comportamentos
similares, a encobrir delitos similares; em troca, as provas de que a homossexualidade
é endêmica, que se difunde por contágio e que tem raízes profundas, difíceis de
eliminar, são esmagadoras.
Se tem demonstrado que os
depredadores homossexuais abusam de seu privilégio clerical em seu proveito. Mas
reivindicar a crise mesma como clericalismo é um puro sofisma. É fingir que um
meio, um instrumento, é em realidade a causa principal.
A denúncia da corrupção homossexual, e
da vileza moral que permite que cresça, não encontra apoios nem solidariedade
em nossos dias, nem sequer, por desgraça, nas mais altas esferas da Igreja. Não
me surpreende que ao chamar a atenção sobre estas pragas, eu tenha sido acusado
de deslealdade para com o Santo Padre e de fomentar uma rebelião aberta e
escandalosa. Mas a rebelião implicaria empurrar os demais a derrocar o papado. Eu
não estou exortando a nada disto. Rezo cada dia pelo Papa Francisco mais do que
tenho feito por outros papas. Peço, mais, imploro ardentemente que o Santo
Padre faça frente aos compromissos que assumiu. Ao aceitar ser sucessor de
Pedro, tomou sobre si a missão de confirmar seus irmãos e a responsabilidade de
guiar todas as almas no seguimento de Cristo, no combate espiritual, pelo caminho
da cruz. Que admita seus erros, que se arrependa, que demonstre que quer seguir
o mandato dado a Pedro e, uma vez que se arrependa, que confirme seus irmãos
(Lucas 22, 32).
Concluindo, desejo repetir o chamamento
a meus irmãos bispos e sacerdotes que sabem que minhas afirmações são
verdadeiras e que estão em condições de poder testemunhá-lo, os que têm acesso aos
documentos que podem resolver esta situação mais além de toda dúvida. Também vós
estais ante uma decisão. Podeis eleger retirar-vos da batalha, continuar na conspiração
de silêncio e desviar o olhar ante o avanço da corrupção. Podeis inventar escusas,
compromissos e justificativas que posponham o dia do juízo final. Podeis
consolar-vos com a hipocrisia e a ilusão de que amanhã, ou o depois de amanhã,
será mais fácil dizer a verdade.
Ou podeis eleger falar. Confiai
nAquele que nos disse “a verdade os fará livres”. Não digo que seja fácil
decidir entre o silêncio e falar. Os exorto a considerar de que decisão não vos
arrependeríeis de haver tomado quando estejais no leito de morte e ante o Juiz
justo.
+ Carlo Maria Viganò
Arcebispo tit. di Ulpiana
Núncio Apostólico
19 de outubro de 2018
Memória dos Mártires de América do
Norte
Um comentário:
Pareceria inexistir o por que de contrargumentar D Viganò; de imediato se percebe seu temor ao Senhor Deus pelo que externa; seus opositores poderiam ter já incidido em erros patentes, bem piores.
O caso papa Francisco conexão Chile, então, sem comentarios!
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