terça-feira, 14 de julho de 2020

A Ciência Econômica do Papa Francisco



Hoje, o site Stilum Curiae me alerta para um evento que ocorrerá em Assis em novembro deste ano chamado "The Economy of Francesco" (a mistura de termos em inglês e italiano já de cara me soou estranho, mas entendi depois a ferramenta psicológica usada).

É um encontro entre professores de economia e personalidades sem qualquer formação em economia para "visualizar um mundo novo pois os jovens querem mudança". Assistam aos videos dos convidados e veja que usam termos genéricos com "cuidar de nossa casa comum", "justiça social", "fazer a paz", "economia comunitária", "mudanças para novo mundo", "economia de São Francisco" (eu li sobre a vida de São Francisco, ele não falou nada como economista, era um santo devotíssimo a Cristo e à Igreja, o santo deve estar remoendo no Paraíso).

O artigo exposto no Stilum Curiae fala de algumas personalidades do evento e descreve alguns dos problemas que elas têm, como banqueiro que foi expulso do próprio banco que criou (Mohammed Yunus), professor suíço que foi demitido por autoplágio, publicar a mesma ciosa diversas vezes sem reconhecer que já foi publicado (Bruno Frey), gente que funda uma ONG e sai pedindo emprego para qualquer político seja de direira ou de esquerda (Carlo Petrini) e economista famoso que prega aborto e controle de natalidade (Jeffrey Sachs).

Não é necessário entrar nestes deméritos pessoais dos palestrantes para ver que a coisa toda é uma grande farsa. Não é  nem ciência econômica (seja como a economia foi definida tradicionalmente (disciplina preocupada com a justiça distributiva e a justiça comutativa) seja como a economia é definida hoje com seus custos de oportunidade), nem muito menos é São Francisco. 

É uma "economia" do Papa Francisco com todo seus erros maniqueístas, anacrônicos e rasos.

Os termos usados para divulgar o evento são vagos propositalmente. Mas o texto central do evento declarado pelos palestrantes é a encíclica Laudato Sí do Papa Francisco. 

Eu falei sobre a Laudato Sí no meu livro de "Ética Católica para Economia"

Eu vou colocar aqui parte do escrevi sobre este texto de Francisco. Aqui vai:

A lógica maniqueísta é recorrente na encíclica Laudato Sí, que elevou em muito o caráter panfletário e confuso da Pacem in Terris do Papa João XXIII.

Na encíclica, o Papa Francisco condenou os “poderosos”, as “multinacionais”, os “latifundiários”, os “interesses econômicos”, as “privatizações” e os “países ricos”. Ora, quando ele escreveu essa encíclica, em 2015, eu diria que os poderosos estavam de acordo com ele.... Não sei a que poderosos ele se refere, nem ele nunca esclarece. Vejam algumas passagens de Laudato Sí, que mostram esse maniqueísmo do Papa Francisco.

1)      Poderosos se recusam a resolver o desafio ambiental: “Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros.”;

2)      Privatizações prejudicam o acesso a áreas de beleza natural e excluem os pobres: “Nalguns lugares, rurais e urbanos, a privatização dos espaços tornou difícil o acesso dos cidadãos a áreas de especial beleza; noutros, criaram-se áreas residenciais «ecológicas» postas à disposição só de poucos, procurando-se evitar que outros entrem a perturbar uma tranquilidade artificial.”

3)      Poderes econômicos ignoram a dignidade humana e o meio ambiente. Disse ele: “os poderes económicos continuam a justificar o sistema mundial atual, onde predomina uma especulação e uma busca de receitas financeiras que tendem a ignorar todo o contexto e os efeitos sobre a dignidade humana e sobre o meio ambiente.".

4)      O poder financeiro é o maior culpado pelos conflitos. Nas palavras dele: “Exige-se da política uma maior atenção para prevenir e resolver as causas que podem dar origem a novos conflitos. Entretanto o poder, ligado com a finança, é o que maior resistência põe a tal esforço”

5)      Multinacionais usam os países pobres para jogar entulho. Disse ele: “ A isto acrescentam-se os danos causados pela exportação de resíduos sólidos e líquidos tóxicos para os países em vias de desenvolvimento e pela atividade poluente de empresas que fazem nos países menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o capital: Constatamos frequentemente que as empresas que assim procedem são multinacionais, que fazem aqui o que não lhes é permitido em países desenvolvidos ou do chamado primeiro mundo.”

6)      Latifundiários forçam os pequenos agricultores a vender suas terras ou abandonar as culturas tradicionais: “As economias de larga escala, especialmente no sector agrícola, acabam por forçar os pequenos agricultores a vender as suas terras ou a abandonar as suas culturas tradicionais.”

7)      Os países ricos devem pagar “dívida ecológica” aos países pobres: “Com efeito, há uma verdadeira «dívida ecológica», particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais efetuado historicamente por alguns países.”.

Além desse maniqueísmo, há duas outras importantes características da Laudato Sí: extensão e confusão. É uma encíclica muito extensa e cansativa de leitura, com muitas contradições entre os parágrafos e uso muito forçado das passagens bíblicas para falar sobre meio ambiente.

Uma parte sobre esse uso da Bíblia que me incomodou bastante em Laudato Sí foi a menção à passagem em Mateus 6:26, em que a encíclica elimina o final da passagem. De acordo com o Papa Francisco, a passagem relata: “Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as”. Acontece que a passagem termina com uma pergunta de Jesus: "Não valeis vós muito mais que elas?", que foi eliminada. Em Mateus 6:26, temos é uma exaltação do humano sobre a natureza, justamente o contrário do que o Papa faz passar.

Deve-se saber que, na enorme extensão da encíclica, o Papa pode se defender de todos os argumentos. Por exemplo, ele pode se defender das frases maniqueístas acima alegando os dizeres da encíclica: “O rico e o pobre têm igual dignidade”....

Por outro lado, em partes da encíclica o Papa parece querer se soltar além da Tradição da Igreja, ao apontar rumos teológicos estranhos à religião cristã:

“Estas situações provocam os gemidos da irmã terra, que se unem aos gemidos dos abandonados do mundo”

Ou:

“Se tivermos presente a complexidade da crise ecológica e as suas múltiplas causas, deveremos reconhecer que as soluções não podem vir duma única maneira de interpretar e transformar a realidade. É necessário recorrer também às diversas riquezas culturais dos povos, à arte e à poesia, à vida interior e à espiritualidade.”

Em termos de ciência econômica, a encíclica mostra um pensamento muito reducionista, com análise muito precária. Em relação às soluções apresentadas pelo Papa Francisco para o “desafio ambiental”, que por si só envolvem muitas decisões de política econômica...Vejam, por exemplo, essa passagem de Laudato Sí, na qual Francisco critica basicamente tudo, e deixa-nos sem nenhuma solução:

“Para que apareçam novos modelos de progresso, precisamos de «converter o modelo de desenvolvimento global», e isto implica refletir responsavelmente «sobre o sentido da economia e dos seus objetivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações». Não é suficiente conciliar, a meio termo, o cuidado da natureza com o ganho financeiro, ou a preservação do meio ambiente com o progresso. Neste campo, os meios-termos são apenas um pequeno adiamento do colapso. Trata-se simplesmente de redefinir o progresso. Um desenvolvimento tecnológico e económico, que não deixa um mundo melhor e uma qualidade de vida integralmente superior, não se pode considerar progresso. Além disso, muitas vezes a qualidade real de vida das pessoas diminui – pela deterioração do ambiente, a baixa qualidade dos produtos alimentares ou o esgotamento de alguns recursos – no contexto dum crescimento da economia. Então, muitas vezes, o discurso do crescimento sustentável torna-se um diversivo e um meio de justificação que absorve valores do discurso ecologista dentro da lógica da finança e da tecnocracia, e a responsabilidade social e ambiental das empresas reduz-se, na maior parte dos casos, a uma série de ações de publicidade e imagem.”

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4 comentários:

Isac disse...

ECONOMÊS DE ESQUERDA!
O papa Francisco segue as dietas das esquerdas: acrescenta o inconveniente e elimina itens bíblicos desfavorecedores das ideologias!
Pareceria um dos flancos de sustentação delas, facilmente perceptíveis e ostensivos, ou,
conte comigo, Xi Lin Ping, Kim Jong Un e afins!

Adilson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adilson disse...

corrigindo o comentário anterior (precisei excluir):

Só se de uma coisa: tem algo grande e podre por trás disso. Depois que você entende e reconhece o espirito que opera no papa Francisco NÃO se pode dar-se ao luxo de considerar erro nesses tipos de evento; tampouco deva esperar que ele tenha a Tradição da Igreja como soberana na orientação da Igreja. É difícil esperar isso desse papado. Certamente, não há um papa do tipo progressista-socialista-pró-globalista. O que temos é um progressista-socialista-pró-globalista que chegou ao papado. Não tenho mais dúvidas: esse homem age nas sombras, e a confusão é seu instrumento.

Wadson disse...

O Papa parece um romântico que vive no mundo da lua.