quarta-feira, 23 de março de 2022

Para que Servem Regras Litúrgicas? Imagem de Francisco Desprezando Liturgia

 


Francisco foi "concelebrar" missa com jesuítas para relembrar 400 anos de canonização de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier. E daí aconteceu o que se vê na foto. 

O fato foi comentado por dois padres.

Mas antes de mostrar o que disseram os padres respondamos: por que precisamos das regras litúrgicas? Ora, a resposta pode se ver no batismo de Cristo e nas tentações de Cristo. Por que Cristo que é Deus precisa ser batizado? Por que Cristo que é Deus precisava passar fome no deserto e ser tentado pelo demônio? Ora, para nos mostrar a importância de seguirmos as regras da justiça divina.

Vejamos o que disseram os padres.

O padre John Zuhlsdorf  disse que aquela foto vale mil palavras.  E completou:

"No altar da grande igreja jesuíta em Roma, Gesù (localização da tumba de Inácio e braço de Francisco Xavier), como o principal celebrante NÃO está o clérigo maior hierarquia (o papa), mas sim o chefe dos jesuítas...

De pé entre os celebrantes “secundários” e obviamente concelebrando, está um velho jesuíta, o cara de branco.

 Nao usa a vestimenta branca dos celebrantes.  Não usa casula.  Nem mesmo uma estola.

 Lembro-me da velha frase: Tão perdido quanto um jesuíta na Semana Santa.

 Os jesuítas são notoriamente negligentes em assuntos litúrgicos... embora haja exceções e talvez alguns dos homens mais jovens sejam mais conscienciosos.

 MAS… isso é simplesmente TERRÍVEL.  A desconsideração da propriedade litúrgica e da sensibilidade dos fiéis está aqui em escala global."

O padre Gerald Murray também comentou o desprezo total de Francisco pelas normas litúrgicas.  Disse:

"A teologia e o direito litúrgicos não admitem que um bispo, muito menos o bispo diocesano em sua própria diocese, concelebre a missa com um padre sendo o celebrante principal.  Isso decorre da natureza do ofício episcopal: o bispo é o sumo sacerdote em sua diocese.  Ele oferece o sacrifício da Missa por seu povo, enquanto seus sacerdotes, colaboradores que servem a Igreja local sob sua autoridade, concelebram com ele.

 A Missa começou com a habitual procissão de entrada.  O Papa Francisco já estava sentado em uma cadeira perto do altar.  Ele não usava paramentos litúrgicos e, portanto, não deu nenhuma indicação de que estava concelebrando ou presidindo.  Ele pregou sem usar as vestes litúrgicas (mozetta e estola) que são prescritas para serem usadas quando o pregador não é aquele que celebra a missa.

 Ele concelebrou, estendendo a mão e dizendo as palavras de consagração, sem usar paramentos de missa (alva, estola e casula).  Esta prática é estritamente proibida.  Em sua Instrução Redemptionis Sacramentum de 2004, a Congregação para o Culto Divino declarou: “É reprovado o abuso pelo qual os ministros sagrados celebram a Santa Missa ou outros ritos sem vestimentas sagradas”.

 O papa está sujeito à lei litúrgica?  sim.  Ele pode dispensar-se das leis litúrgicas?  Sim, mas o cânone 90 afirma que deve haver “uma causa justa e razoável” para uma dispensa".  O Papa Francisco se dispensou canonicamente da exigência de usar vestes litúrgicas ao pregar e concelebrar a Missa?  Ele pode ter, mas a Santa Sé não deu nenhuma indicação de que ele de fato o fez.

Havia uma causa justa e razoável para o papa não usar as vestimentas litúrgicas prescritas?  É muito difícil, se não impossível, afirmar que tal causa existiu neste caso.

 Somos confrontados aqui com uma realidade com a qual os católicos estão muito familiarizados na vida da Igreja durante o último meio século e mais – o flagrante desrespeito às leis litúrgicas sem motivo aparente além da preferência do sacerdote celebrante.

 Este é um assunto importante?  Para alguns, sem dúvida, tais abusos litúrgicos são insignificantes e não merecem qualquer comentário.  Alguns dirão que o papa pode fazer o que quiser, e não devemos ficar chateados com esta ou aquela escolha dele: “Ele deve ter uma boa razão, e é impertinente questionar seu julgamento, porque, afinal, ele é  o Papa."

Mas é precisamente porque ele é o papa que devemos nos preocupar com sua decisão de desconsiderar as regras que regem a celebração da Missa. O papa é a autoridade suprema na Igreja e, como tal, é chamado a defender as leis da Igreja, para que não  escandalizar os fiéis dando um mau exemplo.  O escândalo consistiria em dar a impressão de que, a exemplo do papa, qualquer sacerdote é perfeitamente livre para fazer o que quiser quando se trata de seguir a lei litúrgica.

 Não é segredo que muitos católicos acorreram à celebração da Missa Tradicional em Latim porque estão cansados ​​dos abusos litúrgicos generalizados que encontram na celebração da Nova Missa. O próprio Papa Francisco está ciente disso.

 Ele levantou esse problema em sua carta de 16 de julho de 2021 aos bispos do mundo que acompanha a Traditionis Custodes, seu motu proprio restringindo a celebração da Missa Antiga: “Estou entristecido pelos abusos na celebração da liturgia por todos os lados.  Em comum com Bento XVI, deploro que "em muitos lugares as prescrições do novo Missal não sejam observadas na celebração, mas cheguem a ser interpretadas como uma autorização ou mesmo uma exigência de criatividade, o que leva a distorções quase insuportáveis  .'”

 Ele aconselhou os bispos: “Peço-lhes que sejam vigilantes para que toda liturgia seja celebrada com decoro e fidelidade aos livros litúrgicos promulgados após o Concílio Vaticano II, sem as excentricidades que podem facilmente degenerar em abusos”.

 As próprias palavras do Papa Francisco servem como uma repreensão à sua decisão de concelebrar a Missa sem paramentos litúrgicos.  O caráter sagrado de nossos atos de culto é fomentado e protegido quando padres e bispos seguem de boa vontade e cuidadosamente as exigências da lei litúrgica.  Os fiéis cristãos têm o direito de participar da oração litúrgica sem serem obrigados a experimentar “distorções insuportáveis” da boa ordem litúrgica.  Esse direito depende da vontade dos padres e bispos de obedecer ao que está estabelecido na lei litúrgica.

 Não há privilégio clerical que permita a padres e bispos reescrever as regras de acordo com seus próprios gostos.  No entanto, isso é precisamente o que alguns padres e bispos infelizmente tirarão desse lamentável caso de abuso litúrgico papal.

 A adoração a Deus é o dever sagrado dos pastores da Igreja.  A forma desse culto é dada a eles pela Igreja.  É sua responsabilidade fazer com que cada ato de culto litúrgico seja realizado em amorosa fidelidade ao que é estabelecido pela Igreja em suas leis litúrgicas.  A desobediência ensina a lição errada de que a lei da Igreja não é importante.

 Esta é uma receita para mais caos na vida da Igreja.  Isso precisa parar."








2 comentários:

Adilson disse...

Muito boa postagem, dr Pedro. Me trouxeram muitas curiosidades, especialmente sobre a Liturgia e os jesuítas.

Gostaria que o senhor considerasse os pontos abaixo, e me respondesse uma questão que coloco após eles:

PRIMEIRO:
Desconheço muitas coisas sobre os jesuítas, especialmente sua história e problemas com a Igreja: minhas leituras sobre eles só se resumiram a alguns textos do padre José de Anchieta, do padre Manoel da Nóbrega e o algumas belas histórias da vida de São Francisco Xavier, pra mim, o príncipe dos jesuítas e modelo do perfeito missionário.

Mas me diga:
- Por que o provérbio "Tão perdido quanto um jesuíta na Semana Santa."? Ora, não foram sempre os jesuítas homens de altos estudos, ou isso é exagero que o disse-me-disse do vulgo espalhou? Ou entre eles brotaram comunidades que desprezando o domínio do Culto Divino focaram seus estudos no conhecimento secular apenas?

- Olha os maus exemplos do atual papa, não posso discordar dessa afirmação: "Os jesuítas são notoriamente negligentes em assuntos litúrgicos... embora haja exceções e talvez alguns dos homens mais jovens sejam mais conscienciosos."

Então, minha dúvida: quando a afirmação acima ganhou domínio público? Bom, recentemente eu ouvi um discurso do superior do IBP, o padre Phillippe Laguérie, contra as ousadias dos jesuítas, inclusive até considerando que eles realmente precisaram ser parados.


SEGUNDO:

Por meio dos jesuítas, vieram grandes conquistas tanto de ordem espiritual para incontáveis povos mundo afora, quanto para a expansão da civilização europeia.
Entretanto, é verdade também que muitos intelectuais que se opuseram contra a Religião Católica passaram por escolas jesuítas.

Então, eis meu questionamento: há alguma informação historiográfica sobre o surgimento dessa profunda ambiguidade da alma jesuítica? O que de fato aconteceu para que tal ordem, fundada por um santo, caísse em tão grande balaio de confusão.

Pedro Erik Carneiro disse...

Acho que a resposta é simples, caríssimo Adilson.

Os jesuitas há muito desprezam o próprio sacerdócio e gostam de se comportar como se fossem leigos ateus.

Dessa forma, quando chega a semana santa, que eles têm que seguir ritos estritos e devem se comportar de forma mais séria perante o calvário de Cristo, eles ficam desorientados.

A questão histórica dos jesuítas e por que se tornaram tão próximo do anticristianismo são mais complexas.

Em todo caso Viva Santo Inácio de Loyola. Um sábio santo guerreiro.

Grande abraço
Pedro Erik