quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Nazismo Volta na Europa Esquerdista


Depois que a França (sempre a França) passou lei que põe selo em produtos israelenses que viessem de "colônias ou assentamentos" de Israel na Cisjordânia, o advogado-geral da União Europeia defendeu o mesmo. E a Europa está prestes a repetir o nazismo: colocar avisos em produtos de judeus.

Isso vai certamente provocar uma reação dos Estados Unidos em sua lei de anti-boicote a produtos israelenses. 

Será que pode haver leis europeias colocando selos em produtos que serão feitos em áreas indígenas  ou em áreas supostamente de "agricultura familiar" no Brasil? Será que poderá haver leis europeias colocando selos em produtos feitos por húngaros em terras ciganas? Será que poderá haver leis europeias colocando selos em produtos feitos por agricultores chineses em terras africanas, indianas,...? Será que pode haver leis europeias em produtos feitos por americanos em terras mexicanas?

Melhor não dar ideia.

Vejam abaixo parte do texto sobre o assunto no The Washignton Free Bacon em artigo de Adam Fredo.

Europe Poised to Put Warning Labels on Jewish-Made Products

Legal decision reminiscent of Holocaust-era boycotts of Jews

The European Union is poised to mandate that Israeli products made in contested territories carry consumer warning labels, a decision that could trigger American anti-boycott laws and open up what legal experts describe as a "Pandora's box" of litigation, according to multiple sources involved in the legal dispute who spoke to the Washington Free Beacon.
The Advocate General of the European Court of Justice recently issued non-binding opinion arguing that EU law requires Israeli-made products to be labeled as coming from "settlements" and "Israeli colonies."
The decision was seen as a major win for supporters of the anti-Semitic Boycott, Divestment, and Sanctions movement, or BDS, which seeks to wage economic warfare on Israel and its citizens. Pro-Israel activists, as well as the Jewish businesses involved in the legal dispute, see the decision as an ominous warning sign that they say is reminiscent of Holocaust-era boycotts of Jewish businesses.
With the EU court's 15 judge panel now poised to issue its own binding judgment in the case, legal experts are warning that a potential decision mandating such labeling could pave the way for goods from any disputed territory to receive such treatment. The decision also could trigger U.S. anti-boycott laws meant to stop Israeli-made goods from being singled out for unfair treatment on the international market.
Brooke Goldstein, a human rights lawyer and executive director of the Lawfare Project, which is involved in the legal dispute, described the EU court's initial decision as "frankly outrageous."
"The Advocate General's opinion said that goods produced by Muslims are to be labeled from ‘Palestine,' and goods produced by Jews labeled as coming from ‘Israeli colonies,' Goldstein said. "Both people are living in the same geographic location, and yet Jewish goods are being treated differently."
"Could the discrimination be any clearer?" she asked. "If the EU Court justifies this bigotry it will degrade the rule of law in Europe and it will undoubtedly have many unintended consequences for EU traders. My understanding is that certain consumer protection agencies have already filed complaints to demand the similar labeling of goods from other disputed territories. This labeling fiasco will turn into a nightmare for EU importers of goods from any and all countries involved in territorial disputes. I trust the court will maintain that goods must be labeled indicating the geographical location of origin, and reject the push to politicize labeling."
The legal dispute first began after France passed a law mandating that products made in the West Bank territory of Israel be labeled as coming from an "Israeli colony," a label not applied to any other products across the globe.
The term "Israeli colony" is not legally required to be applied under EU law and was seen as overly burdensome by Israeli business leaders.
Following the French decision, the Israeli Psagot winery filed a lawsuit alleging unlawful discrimination against Jewish companies. That lawsuit eventually made its way to Europe's highest court, the European Court of Justice.
That court now appears poised to affirm the advocate general's opinion mandating that Israeli goods be labeled in a fashion that opponents say is unfair and anti-Semitic in nature.
"I am not a psychologist, so I can't tell you what the motives are behind Europe's targeting of Jewish-owned businesses. Perhaps it is anti-Semitism rearing its ugly head again, perhaps it is blind ignorance, or even a desire to do the right thing," Yaakov Berg, CEO of the Psagot winery, told the Free Beacon. "Regardless, the application of the current EU trade directive to label goods from Jewish producers, and only Jewish producers in the West Bank is discriminatory and illegal."
Berg maintains that Jewish businesses should not be penalized for policies enacted by the Israeli government that European leaders object to.
"We are not the Israeli government," he said. "Psagot winery is not responsible for Israeli government policy. But because we are Jewish owners of a winery in a beautiful and hotly contested land, we are being targeted and punished. And we are being punished precisely because we are Jews living in Judea where we have every right to be, as do the Palestinian Arabs and Druze and the Christians."
"No one should be discriminated against because of their religion," Berg said. "If you support a Palestinian state, would you support a Judenrein state of Palestine? That seems to be what the EU is proposing when it says Jewish businesses are illegal in Palestine but Muslim businesses are not, in the same location! Such a de facto boycott of Jewish products, the likes of which we have not seen since Nazi Germany, would definitely run afoul of U.S. law."
Yohan Benizri, a lawyer representing Psagot, warned that a decision affirming the labels for Jewish-made goods could open the door to other types of overly onerous labeling.
"One doesn't need legal training to recognize the unintended consequences of the EU adopting a policy of politicized labeling," Benizri said. "If the EU Court rules that geographic location is not enough, and that EU law mandates every product coming from either a ‘disputed territory' or a country with ‘objectionable social policies' be labeled as such, then EU markets will be thrown into chaos."
...

21 comentários:

Adilson disse...

Vamos esperar que papa Francisco fale algo a respeito. É bom esperar até sentado ou na cama, pois os sinais são claro demais para esperar uma postura firme da parte dele.

Anônimo disse...

Me parece que não cabe a comparação deste boicote com as práticas nazistas.

O boicote não se dá por racismo, mas por uma atitude política de descontentamento com as práticas de Israel, que desconsideram o Direito Internacional.

Aliás, essas práticas advêm justamente da concepção dos palestinos como pessoas de classe ou raça inferior, que não teriam direito a constituir um Estado soberano.


Jonas R

Pedro Erik Carneiro disse...

Bom, acho que você até pode discutir o Direito Internacional, meu caro, apesar de ser o ramo mais frágil do direito.

Mas os "palestinos" vivem e são até parlamentares em Israel. Não creio que caiba discutir que os judeus considerem de forma generalizada os palestinos ou mesmo os católicos como raça inferior.

Sobre a comparação com as práticas nazistas. O Nazismo também usou argumentos sociais e econômicos para penalizar os judeus na época.

Abraço,
Pedro Erik

Anônimo disse...

1- O fato de palestinos serem aceitos e representados em Israel é um exemplo bonito de pluralismo democrático. Mas há também de se observar que a representação de palestinos e adeptos da religião muçulmana não é bem vista por alas ortodoxas mais radicais de lá, que fazem parte da base política do Netanyahu.

2- O conceito de palestinos muçulmanos como raça inferior me parece ser uma visão política não especificamente de judeus (muitos judeus são favoráveis ao Estado Palestino), mas muito mais presente no cristianismo evangélico estadunidense - não o moderado, mas o de caráter mais extremista -, que trabalha muito contra a criação de um Estado Palestino. Lembrando que a ala radical do Partido Republicano, totalmente contrária aos palestinos, defende a aliança com a ditadura da Arábia Saudita, o que é um contrassenso.

3- A França não possui leis que discriminem os judeus, de modo que não se pode concluir que os franceses enxergam os judeus como raça inferior tal qual o regime nazista. É muito forçosa a comparação. O que se observa na França é uma posição política contrária a uma política de Estado adotada por Israel (da qual muitos judeus discordam), que desrespeita o convencionado pela Comunidade Internacional e desconsidera totalmente a possibilidade de existência de um Estado vizinho, soberano e autodeterminado.

É verdade que a realidade política da região é muito complexa, e por isso mesmo não se pode analisar a situação de um modo maniqueísta (Israel bom, Palestino mau; ou vice-versa). A solução proposta pelo Vaticano me parece bem sensata e de acordo com os valores conservadores cristãos; acredito que todos deveriam trabalhar, pacificamente, para sua concretização.


Abraço,
Jonas R

Pedro Erik Carneiro disse...

Meu caro, acho que você está misturando raça com religião. O islamismo é realmente terrível em vários aspectos. Recomendo que leia Alcorão para ver isso, este sim mistura religião com raça, sendo o infiel sujeito a morte.

Outra coisa, sugiro que você confie menos no que chama de "comunidade internacional". A ONU não serve de parâmetro para ninguém que seja conservador ou cristão,por exemplo. As comissões de direitos humanos desrespeitam Israel há décadas.

Abraço,
Pedro Erik

Anônimo disse...

1- Sim, concordo. Usei o termo raça quando talvez o mais exato seria etnia. Mas o preconceito étnico engloba também a religião étnica, assim como o preconceito com os judeus também englobava a religião característica da etnia judaica.

Mas enfim, isto posto, há setores políticos de Israel (acredito que sejam minoritários hoje) que veem sim o palestino como cidadão de segunda classe. Isso inclui também uma visão negativa da religião muçulmana, que, é verdade, muitas vezes se manifesta no Oriente Médio de forma violenta e intolerante. No entanto, o exemplo que deste não me parece muito relevante. Assim como o Alcorão tem trechos que podem indicar violência, o Antigo Testamento também possui trechos que podem ser terríveis quando analisados fora de contexto. Basta ver os casos de apedrejamento previstos no Levítico - se não me engano, o culto aos ídolos pagãos e a blasfêmia são elencados entre eles. Obviamente, o catolicismo hoje não dá tanto valor à literalidade do trecho, preponderando sempre na interpretação atual o mandamento do Amor. Nessa linha, há muitos muçulmanos que pregam também a relativização desses trechos violentos do Alcorão, sobrepondo aos trechos um princípio maior de tolerância e de paz entre os homens, seguindo um pouco o exemplo do que o catolicismo faz modernamente.


2- Não confio taanto na comunidade internacional; apenas confio menos, enquanto conservador católico brasileiro, na narrativa dos republicanos estadunidenses e na do próprio governo israelense. Acreditar que a ONU acerta sempre é tão insensato quanto acreditar que Israel acerta sempre ou que o Partido Republicano sempre está com a razão. Entretanto, temos de um lado a narrativa de dois países diretamente interessados, e de outro a de uma comunidade de países, grande parte dos quais com uma visão mais equidistante dos fatos . É importante frisar que a visão da ONU também vai ao encontro da visão do Vaticano, que se coloca com independência diante da situação.

Enfim, me parece claro que a narrativa sustentada pelo governo de Israel é muitas vezes contaminada com os seus interesses em jogo, assim como a opinião dos EUA, quem tem Israel como aliado. Dizer que a comunidade de países está errada porque contrariou um país é colocar esse país como parâmetro, em detrimento dos parâmetros dos vários países componentes da comunidade. Colocar os interesses de Israel como parâmetro máximo para resolução do conflito cabe bem para um político israelense, mas acho que não cabe tão bem para um conservador brasileiro, nem para um observador que se quer imparcial.


Abraço,
Jonas R

Pedro Erik Carneiro disse...

Meu caro,

Esse argumento que a Bíblia tem trechos violentos não cola porque o Alcorão não tem contexto, são simples ordens e são gerais: isto é, mate os infiéis quando os encontrar.

A violência na Bíblia é contextualizada e justificada (quase sempre pela introdução de cultos dentro do povo judeu, sendo uma invasão interna). A violência tem momento, é como se fosse um livro de história.

No Alcorão não há história, há ordens generalizadas. A história tem que ser buscada no hadith e elas são ainda mais terríveis.

Além disso, o profeta Maomé que é o exemplo perfeito de ser humano para os muçulmanos, matou, decolou, e roubou.

Não é possível a comparação com Cristo.

Sobre seu último parágrafo, eu não baseio minha análise em Israel, mas veja os países que o cercam. Fica difícil defende-los.

Abraço,
Pedro Erik

Anônimo disse...

1- Não foi minha intenção usar o argumento da violência no Antigo Testamento para desqualificar a minha amada religião católica ou o próprio judaísmo. Só usei como exemplo porque, justamente, não acho suficiente o argumento que usa o texto frio como causador de uma religião violenta. O Catolicismo é um exemplo claro: mesmo com esses trechos terríveis, é uma religião pacífica, tolerante e que prega como mandamento maior o amor - a Deus e ao próximo. Aliás, esse argumento do "texto frio" sempre é levantado quando converso com amigos ateus e, na conversa, eles sempre concordam que não é um argumento suficiente.

A violência no islamismo também é sempre contextualizada e justificada (segundo os fins considerados relevantes na época em questão); isso porque toda religião é gerada dentro de um contexto histórico, social, econômico, etc., e sempre possui seus fins. Não apenas o povo judeu, mas os povos muçulmanos e todos os demais, até mesmo os cristãos, sempre reagiram com violência quando elementos alienígenas adentravam sua ordem interna (isso ainda acontece hoje, veja os nacionalismos radicais que confundem patriotismo com xenofobia). Quando estudei História do Direito, lembro de ver claramente esses traços em praticamente todas as culturas - lembrando que o Direito, naqueles tempos, se confundia com a Religião -, quase sempre com penas que hoje seriam consideradas absurdas, fora de propósito e totalmente desproporcionais. É curioso, por exemplo, que a maioria dos estudiosos penalistas defendem que a limitação da tortura promovida pela Inquisição Eclesiástica medieval foi um avanço humanitário, por mais absurdo que possa parecer a uma mente de hoje; isso porque a tortura era usada no processo de forma generalizada, principalmente pelos tribunais seculares, logo limitá-la foi um passo à frente. Isso falando apenas do processo... imagina as penas.

(continuo)

Anônimo disse...

2- O trabalho de contextualização da Bíblia e de subordinação dos mandamentos ao Princípio da Caridade dentro da Igreja foi desenvolvido por milhares de pensadores católicos, durante séculos, com idas e vindas, e marcado por muitos conflitos. No entanto, vejo muitos cristãos hoje, principalmente influenciados pelo cristianismo evangélico estadunidense, que pregam por versículos, utilizando-os de acordo com o interesse de sua narrativa. Usam-nos para justificar guerras, preconceitos de raça, e inclusive a pena de reclusão - ou até mesmo a morte - para pessoas que não se encaixam no padrão de comportamento moral proposto (ou imposto?) pelos mesmos. Na mão desses líderes, o Antigo Testamento pode ser usado para criar um “cristianismo” de violência e intolerância, talvez até mais violento e intolerante do que o próprio islamismo, podendo justificar com versículos soltos até a morte de meninos de peito que sejam oriundos de uma cultura/religião diferente. Aqui no Brasil já vi “conservadores cristãos” comemorando a morte de uma mulher e seu motorista, dentro do carro, por uma rajada de balas disparadas por homens violentos... Esses “conservadores cristãos” comemoraram a morte de ambos simplesmente porque a moça não defendia os seus valores. Uma pessoa que comemora uma morte daquelas não é conservador e nem cristão, é uma pessoa que perdeu completamente a régua moral. É um exemplo muito claro dos males que esses líderes “cristãos” podem causar.

Sobre a figura de Maomé, vale o mesmo se invertermos a acusação. Para uma pessoa que tem uma visão superficial do catolicismo, David é um homem ávido por poder e que o conquista por meio de guerras e muitas mortes; Moisés é um líder religioso que manda apedrejar um homem porque recolheu lenha no sábado; Samuel é um profeta que manda Saul exterminar completamente um povo, sem poupar nem mulheres, nem crianças, nem animais. Todos esses nomes são exemplos de virtude para o católico, porém suas vidas são contextualizadas e muitos de seus atos são reinterpretados no sentido da espiritualidade e não da brutalidade e da violência física. Nada impede que o mundo muçulmano faça o mesmo e deixe de lado as interpretações violentas e intolerantes; há muitos exemplos de muçulmanos e cristãos que convivem pacificamente no mundo atual.


Boa a conversa haha
Grande abraço,
Jonas R

Anônimo disse...

Só esqueci da tua resposta sobre Israel: concordo que os regimes do Oriente Médio necessitam melhorar em vários aspectos, principalmente quanto ao respeito aos direitos humanos. Mas não é negando o direito de autodeterminação ao povo palestino que se construirá regimes democráticos por lá. Seria muito mais eficaz direcionar apoio nas diversas áreas, assim como se faz com Israel, e ajudar a consolidar um regime democrático.

Só relembro que os mesmos republicanos que sentem repulsa pelo Estado Palestino são aqueles aliados à ditadura Saudita. Quem conhece bem os estadunidenses sabem que suas posições a nível internacional não buscam tanto a justiça, a democracia ou o direito dos povos e sim, muito mais, seus interesses nacionais.


Jonas R

Pedro Erik Carneiro disse...

Ok, meu caro. Há muito a ser dito sobre o que falou..

Você leu meu livro sobre Guerra Justa? Explico muitos pontos que falou nele.

Abraço

Anônimo disse...

Acho que li há tempos, mas não me recordo muito bem.

Não sou contrário à Teoria da Guerra Justa no campo laico. Dado que agressões entre Estados são inevitáveis, é importante ter um instrumento que modere as ações. Acho que a Teoria é muito bem desenvolvida atualmente no Direito Internacional, embora nem sempre aplicada quando não convém aos poderosos (como toda a lei, diga-se de passagem).

Acho que é justo que um Estado agredido tenha o direito de reagir à força com a força, proporcional à agressão, de modo a repelir a agressão, sem atingir civis, etc, de modo análogo ao instituto da Legítima Defesa. Por exemplo, considero justo o México reagir à agressão expansionista dos Estados Unidos na Guerra México/EUA; e consideraria justo também a Ucrânia reagir à agressão expansionista da Rússia no conflito que terminou com a anexação da Crimeia.

Porém, a Guerra com objetivo de colonização religiosa, política, cultural, social, etc, na minha visão, se revela contrária a qualquer noção de justiça. É uma noção unilateral de "justiça" (que por ser unilateral não pode ser considerada verdadeira justiça), utilizada historicamente como justificativa de agressões com objetivos outros que não o justo e o direito.

Considerando a atual Teoria da Guerra Justa, a ONU e a maioria dos juristas que se debruçam sobre o Direito Internacional não condenam completamente todas as ações de Israel. Algumas das ações militares de Israel são vistas como uma resposta à agressões externas, outras não. Algumas respeitam a proporcionalidade, outras não, atingindo até mesmo civis. Também há a política de assentamentos que destrói a possibilidade de uma solução de dois Estados. Então me parece natural que se façam críticas a determinados atos de Israel, assim como se faz a determinados atos do Estado Palestino, como o lançamento de foguetes contra Israel.

O que pra mim parece pouco prudente para um conservador é considerar todos os atos de Israel como justos, o que não é factível considerando-se que este é governado por homens.


Obs.: Só para deixar claro, do ponto de vista puramente teológico católico, acho praticamente impossível sustentar o princípio da Guerra Justa, dado o ensinamento de Cristo no Sermão da Montanha. São necessários muitos malabarismos para desconsiderar o que Jesus proferiu enfaticamente neste trecho central do Evangelho. Entendo que Santo Tomás e Santo Agostinho defenderam certos princípios da Guerra Justa entre europeus, no entanto o fizeram numa época que não havia uma distinção clara entre Direito, Religião, Ciência Política, Relações Internacionais. Portanto, não entendo que tenham desenvolvido estes temas enquanto teólogos cristãos, mas sim enquanto pensadores de outras áreas, dada a vastidão de áreas para as quais contribuíram.

No contexto atual, qualquer Papa, Bispo ou padre que pregar o emprego da violência em qualquer instância comete heresia.


Abraço,
Jonas R

Pedro Erik Carneiro disse...

É puramente possível Guerra Justa e o Sermão da Montanha, meu caro. Afinal, lá se fala em justiça e caridade. A definição de Guerra Justa é exatamente a combinação de justiça e caridade.

Abraço

Anônimo disse...

Acho praticamente impossível conciliar a doutrina do "não resistam ao mal" com qualquer ato de violência. É interessante que o Sermão da Montanha não é apenas um Sermão, mas talvez a própria síntese verbal da Vida de Jesus. Assim como Jesus prega oferecer a outra face à violência, assim age quando recebe a violência; Ele não reage com nova violência, mas com o argumento: “Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?” (João 18, 23). Jesus foi manso e humilde de coração, tal qual cordeiro, e nunca bateu ou feriu alguém com espada, mesmo sofrendo a maior de todas as injustiças; logo, o seu imitador, que busca a excelência cristã, deve agir da mesma forma.

O único episódio que revela uma ação física mais enérgica de Jesus, sempre citada nessa discussão, é a expulsão dos vendilhões do Templo, e mesmo assim não é narrada nenhuma agressão física a pessoas, apenas a derrubada de cadeiras e mesas. Ainda, é importante frisar que essa fúria não foi contra estrangeiros, outras religiões ou qualquer elemento externo, mas contra os próprios judeus que transformavam ali a Religião em mercadoria, em meio para fins mundanos (assim como hoje muitos líderes usam a religião para obter lucro, para fins políticos, para justificar guerras, etc.).

Lembro que há algum tempo o Papa Emérito Bento XVI se envolveu numa polêmica por causa de um discurso que citava uma conversa entre um Basileu bizantino e um Sultão muçulmano. E lembro que o tema principal do discurso era justamente que a religião cristã nunca poderia usar a violência, nem para impor a religião considerada verdadeira aos "infiéis". A única arma que o cristão poderia usar era o argumento e o exemplo de vida, tal qual Jesus que pregou com palavras e com a vida.

Agora, dado que a maioria de nós somos cristãos imperfeitos, concedo que necessitemos da violência, em sua justa medida, em alguns casos. Mas sem comemorar essa violência que é fruto de nossa própria imperfeição e apego ao Mundo. Acho sempre muito estranho um cristão comemorar a prisão de outro irmão ou a condenação à morte do mesmo. Exultar pela violência perpetrada pelo Estado, mesmo que esta seja efeito de ato considerado injusto, é escancaradamente contrário ao Espírito de Cristo; ainda mais se considerarmos que nossos processos de condenação, diversos do Julgamento de Deus, são propensos a inúmeras falhas e infinitos vícios, e nossa concepção de justiça é imperfeitíssima, incomparável à Justiça Divina.


Jonas R

Pedro Erik Carneiro disse...

Na verdade, João 18:23 é usado para justificar a guerra justa, desde santo Agostinho. Pois Cristo não deu outra face e desafiou os poderes.

Outra coisa, lembre, Cristo fez arma (juntou cordas e fez chicotes disso) e surrou mercadores.

São Paulo explicou como conciliar "não resista ao mal" com violência justa, meu caro. Cartas aos Romanos.

Santo Agostinho, o pai da teoria da Guerra Justa, também conciliou perfeitamente.

Você se referiu ao discurso de Regensburg de Bento XVI, o foco não é guerra justa mas a conciliação entre filosofia grega e cristianismo no uso da razão. Coisa que o islã não possui.

O fato da paz verdadeira só existir dianted Deus, por si só justifica a Guerra Justa, foi o que disse São Tomás de Aquino.

Acho que você não leu meu livro, hehehe.

Abraço,
Pedro Erik

Isac disse...

Se for comunista e chamar de nazista será: "Chame os outros do que v é e acuse os outros do que v faz" Lênin e o $enhor deus dinheiro para eles é o maior bem!.

Anônimo disse...

Em resposta ao Isac: não xingarei o Pedro de nazista hahah. A divergência não é sinal de ódio, gosto dele e sempre leio com atenção o que ele escreve. Só acho equivocado chamares alguém de comunista por defender a não-violência, dado que o Comunismo foi um regime militarista e muitas vezes violentíssimo.

Grande abraço,
Jonas R

Anônimo disse...

1 - É inegável – porque escrito literalmente no Evangelho – que Cristo pregou dar a outra face e que Cristo não revidou com violência a bofetada sofrida. Ademais, no Evangelho praticamente inteiro não há ação violenta de Jesus. A única exceção – única – é a expulsão dos vendilhões (o que por ser exceção já diz muito), na qual Jesus não bate em ninguém (ele não surra os mercadores), apenas expulsa as pessoas e revira mesas e cadeiras. E, repito, esse ato não é contra agente externo – o que seria o caso de uma guerra religiosa, por exemplo – mas contra elementos internos, contra os mercadores da Religião, como já ponderei anteriormente. Então (1) não há violência física contra pessoas e (2) o ato é contra o ato de indivíduos do próprio meio cultural e religioso de Jesus, que instrumentalizaram a Religião de acordo com fins mundanos. A partir desse fato concluir que Jesus pregava a morte de pessoas é muito forçado; é uma forçação de barra enorme na interpretação e desconsidera todo o resto do Evangelho.

Entendo que alguém que vai ao Evangelho na busca de justificação para empregar uma violência ao próximo, irá citar esse trecho - assim como o trecho em que Jesus diz que não veio trazer a paz, mas a espada; trechos do AT, etc. No entanto, este é o mesmo comportamento dos defensores da escravidão que usavam trechos bíblicos, inclusive das cartas de São Paulo, para justificar a escravidão; ou dos pensadores que justificavam a autoridade de governos absolutistas, também inclusive utilizando São Paulo. Posso utilizar versículos da Carta aos Romanos para condenar a Revolução dos estadunidenses contra a autoridade do rei de Inglaterra. Enfim, o próprio demônio usou as Escrituras descontextualizadas para tentar Jesus.

(continua)
Jonas R

Anônimo disse...

2- O Sermão da Montanha claramente prega uma mensagem de amor e de não-violência, propondo ao fiel se entregar inteiramente à Justiça e Providência Divinas. Uma leitura e meditação demorada do Sermão deixa claro isso. Para dizer que Jesus prega o uso de violência é necessário quase que um duplipensamento Orwelliano, o leitor tem que interpretar que ali onde Jesus disse “paz”, leia-se “guerra” (Paz é Guerra, inversão do slogan do Grande Irmão de 1984).

Cito:

"Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa. Se alguém vem obrigar-te a andar mil passos com ele, anda dois mil. Dá a quem te pede e não te desvies daquele que te quer pedir emprestado. Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem. Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isso também os pagãos? Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.” (São Mateus 5, 38-47)

Também cito um trecho de São Paulo aos Romanos:
"Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns dos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35). Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21s). Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem." (Romanos 12, 17-21)

(continua)
Jonas R

Anônimo disse...

3- Sobre o discurso de Bento XVI, ele gerou polêmica justamente por criticar o uso da violência e pregar o uso do argumento racional. Trecho do discurso de Bento XVI:

“No sétimo colóquio (διάλεξις – controvérsia) publicado pelo Prof. Khoury, o imperador aborda o tema da jihād, da guerra santa. O imperador sabia seguramente que, na sura 2, 256, lê-se: «Nenhuma coacção nas coisas de fé». Esta é provavelmente uma das suras do período inicial – segundo uma parte dos peritos – quando o próprio Maomé se encontrava ainda sem poder e ameaçado. Naturalmente, sobre a guerra santa, o imperador conhecia também as disposições que se foram desenvolvendo posteriormente e se fixaram no Alcorão. Sem se deter em pormenores como a diferença de tratamento entre os que possuem o «Livro» e os «incrédulos», ele, de modo surpreendentemente brusco – tão brusco que para nós é inaceitável –, dirige-se ao seu interlocutor simplesmente com a pergunta central sobre a relação entre religião e violência em geral, dizendo: «Mostra-me também o que trouxe de novo Maomé, e encontrarás apenas coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava». O imperador, depois de se ter pronunciado de modo tão ríspido, passa a explicar minuciosamente os motivos pelos quais não é razoável a difusão da fé mediante a violência. Esta está em contraste com a natureza de Deus e a natureza da alma. Diz ele: «Deus não se compraz com o sangue; não agir segundo a razão – «σὺν λόγω» – é contrário à natureza de Deus. A fé é fruto da alma, não do corpo. Por conseguinte, quem desejar conduzir alguém à fé tem necessidade da capacidade de falar bem e de raciocinar correctamente, e não da violência nem da ameaça... Para convencer uma alma racional não é necessário dispor do próprio braço, nem de instrumentos para ferir ou de qualquer outro meio com que se possa ameaçar de morte uma pessoa...».”

(continua)
Jonas R

Anônimo disse...

4- Sobre Santo Tomás e Santo Agostinho, é verdade que contribuíram para o conceito de Guerra Justa. Mas, repito – já sublinhei isto antes – não disseram isto enquanto teólogos cristãos, mas enquanto estudiosos de outras áreas, dado que suas obras são vastíssimas e contribuíram pra diversas áreas do conhecimento (que não eram bem distinguidas na Antiguidade e no Medievo, misturavam matérias de ciências seculares com matérias religiosas e tal).

Do ponto de vista secular, já afirmei acima que a Teoria da Guerra Justa, tal qual atualmente concebida no Direito Internacional (e que considera as contribuições destes dois grandes pensadores) é importantíssima. A guerra é algo comprovadamente inevitável na história humana. Portanto, como não temos como evitá-la, é necessário dar certos limites que moderem de forma justa o seu uso. Assim também o uso do Direito Penal no âmbito interno é inevitável. Dado que nossa sociedade é pluralista (não é composta só de cristãos), e mesmo os cristãos são imperfeitos no seguimento do Evangelho, essa justa medida de violência é necessária no plano secular. Agora, o cristão que busca viver o Cristianismo na sua excelência, no seguimento radical de Cristo, esse não pode nem pregar e nem utilizar a violência, ela é rechaçada claramente no Evangelho. No contexto atual, qualquer líder religioso – seja Papa, Bispo ou padre – que pregue a violência ou a exalte diante das massas vai claramente contra a Doutrina Sagrada, comete heresia.

Os grandes teólogos católicos são, predominantemente, contra o uso da violência. Para cada trecho de autoridade teológica que alguém utiliza a favor da violência, pode-se citar 100 trechos contrários ao uso da violência. A prova maior disso é a concepção teológica do mártir como o cristão por excelência.

É importante considerar ainda que grande parte dos pensadores cristãos que defenderam a guerra, a defenderam dentro de um contexto específico de legitimação de atos do poder temporal. Lembro que alguns defenderam a dominação dos nativos americanos pelas potências europeias como uma espécie de “guerra justa civilizatória”, tais como Victoria e Sepúlveda, cujas visões foram contrariadas pelo pensamento de Bartolomè de Las Casas. Essa concepção de Guerra Justa foi desenvolvida exatamente para sustentar “teologicamente” a conquista das Américas pelos reis espanhóis, ou seja, são argumentos disfarçadamente teológicos, pois não possuem fins teológicos, mas fins políticos do poder temporal.

Grande abraço,
Jonas R