quinta-feira, 3 de abril de 2014

Rebatendo o cardeal Kasper, que defende liberalização da Eucaristia


O grande especialista em lei canônica, Edward Peters, escreveu recentemente que a vontade de dar comunhão para divorciados que se casaram de novo esbarra nos seguintes princípios canônicos e do catecismo:
  1. Cânones 915, 916 - Católicos que se casam novamente após se divorciarem persistem em pecado grave manifesto;
  2. Catecismo da Igreja 2380, 2381. 2384 - Católicos vivendo casamentos pós-divórcios estão pecando de forma pública e objetiva;
  3. Cânones 1055, 1134, 1141 - Estes segundos casamentos são adúlteros porque o verdadeiro casamento é uma união exclusiva até a morte.
Confiram os preceitos canônicos e do catecismo ditos por Peters, clicando aqui para a lei Canônica aqui para o Catecismo da Igreja, como o cânone 915 e o parágrafo 2380 do Catecismo:

Cân. 915 — Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os  interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto.

2380. O adultério. É o termo que designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais pelo menos um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efémera, cometem adultério. Cristo condena o adultério, mesmo de simples desejo (131). O sexto mandamento e o Novo Testamento proíbem absolutamente o adultério (132). Os profetas denunciam-lhe a gravidade. E vêem no adultério a figura do pecado da idolatria (133).

Leiam o excepcional, como é recorrente, texto de Peters, clicando aqui.

Mas ontem, eu li um outro excelente texto sobre o assunto que contrapõe o argumento de que no passado, os Padres da Igreja aceitam mais o divórcio. O texto é de John Rist, especialista em filosofia patrística da Catholic University of America. Foi publicado no jornal National Catholic Register.

Rist ataca os argumentos do cardeal Kasper da Alemanha. Este cardeal defendeu entre os cardeais e o papa Francisco que a Igreja liberalizasse a Eucaristia para os divorciados que se casaram novamente.

Traduzo parte do texto de Rist, em azul, abaixo.


Em 20 de fevereiro, o cardeal Walter Kasper da Alemanha fez um discurso, "O Evangelho da Família", para o Consistório extraordinário sobre a Família chamado pelo Santo Padre. Muito do discurso trata das dificuldades atuais para os casais - mobilidade maciça, imigração, custos da educação dos filhos, o envelhecimento da população, o individualismo, a alienação da vida urbana, o divórcio civil, etc.

 
Um católico casado como eu iria supor que essas circunstâncias, ao invés de clamarem por uma flexibilização das regras e liberar a comunhão para divorciados e "re-casados", iriam exigir que os padres devem estar mais atentos nas instruções a serem dadas para aqueles que querem se casar, cientes dessas dificuldades do casamento na sociedade contemporânea, no sentido de resolver ou pelo menos diminuir o problema e aliviar a pressão sobre o casamento.

No entanto, o cardeal propõe que a regra sobre a Eucaristia seja liberalizada para dois grupos de católicos divorciados e recasados: aqueles que realmente acreditam que se casaram sem nenhuma firme intenção em relação às regras de validade; e em segundo lugar, para aqueles que contraíram uma segunda união civil, porque o casamento católico falhou "irremediavelmente". 
Não é a minha intenção ensinar ao cardeal sobre casamento, mas, sim, tratar dentro da minha competência: o ensinamento dos Padres da Igreja. O cardeal Kasper diz que as evidências da Igreja na sua formação são suficientemente incertas e isto apoiaria a ideia de que os Padres da Igreja apoiariam o relaxamento das regras da Eucaristia.

Para mostrar o quão fraco é essa afirmação, deixe-me abordar os poucos textos que o cardeal oferece em apoio da sua posição - limitando-me ao período anterior ao século VI. 

O cardeal sabiamente não oferece nada dos primeiros 150 anos do cristianismo, presumivelmente aceitado que as regras desta época inicial eram estritas e apostolicamente defendidas. O primeiro texto que ele cita é de Orígenes (Comentário sobre Mateus 14:23-24 ), relatando que os bispos de certas igrejas locais " não sem razão " permitem a comunhão aos divorciados novamente casados​​. No entanto, também Orígenes diz - não uma, mas três vezes - que esta prática é contrária às Escrituras: dificilmente endossando a tolerância! Concílios à parte, o cardeal Kasper oferece mais uma prova somente a partir do século IV, observando que Basílio (Cartas 188 e 199 ), Gregório de Nazienzen ( Oratio 37) e Agostinho estão cientes que a prática ocorre; o que ele omite notar é que não há nenhuma indicação de qualquer um deles concordando com o que claramente contraria o ensino comum. 

Indo além dos teólogos, o Cardeal Kasper afirma que uma atitude mais pastoral é evidenciada pelo Concílio de Nicéia (325) - presumivelmente pelo Cânone 8 do Concílio, que ( para que ele e para outros) a abordagem mais relaxada é "confirmada ". Embora isso às vezes foi lido no texto, a sua certa intenção é permitir a Eucaristia não ao divorciados novamente casados​​, mas para a viúva que casou-se novamente; por que precisamos ter em mente que um cristão se casar duas vezes em qualquer circunstância - incluindo viuvez - foi muito debatida, dando razão para o Concílio resolver esta incerteza. O argumento do cardeal Kasper também não é reforçada pela aplicação errada a noção paulina de metanoia e presumindo erradamente que os patriarcas consideravam o "arrependimento" do fracasso do primeiro casamento para justificar contrair um segundo casamento.

Para concluir, os argumentos do cardeal dependem de uma mal interpreatação de um pequeno número de textos, negligenciando muitos outros que os contradizem. Como isso pode ter acontecido? 

A meu ver, temos aqui um exemplo de um procedimento muito freqüente na academia, mais especialmente quando o trabalho é motivado por conveniência ou ideologia: Há uma enorme quantidade de evidências em uma direção e um ou dois textos que poderiam concebivelmente ser lido de outro modo; a partir do qual é derivada a conclusão desejada, ou pelo menos deixa o assunto aberto.
 
Talvez o cardeal Kasper tem mais textos para citar; certamente, ele será capaz de citar alguns poucos estudiosos, cuja liderança ele tem seguido. Mas vários exemplares de uma prática acadêmica enganadora não são logicamente mais convincentes do que apenas um!

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Em resumo, os argumentos do cardeal Kasper são estupidamente frágeis.

Rezemos pela Igreja.


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