quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Tipos Incompreensíveis de Católicos. Exemplo: Cardeal Zen


Certa vez, eu vi um palestrante católico falar contra pessoas que buscam "igrejas perfeitas", pessoas que preferem ficar ateias por conta dos erros que elas veem nos clérigos, pastores, etc. O palestrante disse uma frase sensacional: se você encontrar uma igreja perfeita, entre nela e ela deixará de ser pefeita.

O ser humano é imperfeito, por isso mesmo que ressaltei no meu livro de Guerra Justa, que é possível uma guerra justa, mas não é possível uma paz justa. Paz justa só em Cristo quando se está diante da luz divina (após a morte).

Chesterton dizia que nada mais factual e óbvio do que o pecado original. Pode-se ver o pecado original em todos.  Isso mesmo, nada mais óbvio que a imperfeição humana.

Mas apesar de todos os seres humanos serem imperfeitos, algumas imperfeições me assustam no católicos.

Casos como:

1) Católicos idolatrando políticos (no Brasil, alguns idolatram Lula, outros idolatram Bolsonaro);

2) Católicos que sabem imensamente sobre doutrina católica mas se fecham em suas salas, não falam ao próximo e ao mundo (até entendo, claro, os monges, mas não os leigos);

3) Católicos que defendem fortemente a fé  católica contra alguns inimigos da fé, mas defendem algo que apoia os inimigos.

Vou falar do caso 3 hoje, usando um cardeal que respeito muito: Cardeal Zen.

O Cardeal Zen luta praticamente sozinho na China pela defesa da fé católica, contra os comunistas e  até contra o que faz o Papa Francisco, que costuma apoiar com silêncio e ações o partido comunista chinês. 

Mas recentemente Zen exaltou o Vaticano II. Ele falou contra tanto os esquerdistas que usam o Vaticano II em favor de teses marxistas, como contra o que chama de tradicionalistas que querem abandonar o Vaticano II.

Pode alguém exaltar o Vaticano II e ser contra China ?

Até acho que se pode escolher um documento do Vaticano II para defender. Mas defender o Concílio em geral, acho que não pode.

O problema mais óbvio do Vaticano II foi justamente se calar frente ao comunismo. O uso que Paulo VI do Ostpolitik (silenciar em relação ao comunismo) levou inclusive a condenações de cardeais que lutavam contra o comunismo (ver cardeal Josef Mindszenty). Hoje o que Francisco faz nada mais é que Ostpolitk elevada ao terceiro grau.


Roberto de Mattei viu o que eu vi nas palavras do Cardeal Zen sobre Vaticano II e reagiu.

Aqui vai parte do disse de Mattei:

A Ostpolitik que o cardeal Zen critica é, de fato, fruto do Concílio Vaticano II. Esta é uma evidência histórica que não admite negações.
        
Nos anos do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965, o comunismo constituiu uma ameaça à Igreja e à humanidade nunca antes vistas na história. A assembléia dos Padres do Concílio, reunida para discutir as relações entre a Igreja e o mundo moderno, não disse uma palavra sobre o comunismo, apesar de centenas deles terem pedido uma condenação pública solene a esse flagelo. O cardeal Zen pediu que os textos do Concílio fossem redescobertos e os definisse como o verdadeiro fruto do Vaticano II. “Através desses documentos, você ouve a voz real do Espírito Santo".

O Espírito Santo, no entanto, não levantou sua voz contra o comunismo. Portanto, muitos historiadores e teólogos têm razão, de monsenhor Gherardini ao cardeal Brandmüller, quando afirmam que o valor magisterial e a autoridade vinculativa dos textos conciliares ainda precisam ser discutidos, sem excluir a idéia de que muitos desses documentos podem acabar um dia na lixeira. Mas o mais importante é que o Concílio Vaticano II é um evento histórico que não pode ser reduzido a textos confusos e ambíguos. 

O Cardeal Zen declara: “Creio que seria muito proveitoso ler o sermão de abertura do Vaticano II pelo Papa João XXIII, onde explicou o verdadeiro significado de 'aggiornamento': enfrentando todas as ameaças da civilização moderna, a Igreja não deve ter medo, mas encontre maneiras de mostrar ao mundo a verdadeira face de Jesus, o Redentor do homem. ”

Bem, naquele discurso, que abriu o Concílio Vaticano II em 11 de outubro de 1962, João XXIII explicou que “para o depósito da fé, as verdades contidas em nossa venerável doutrina são uma coisa; mas  a maneira pela qual eles são expressos, com o mesmo significado e o mesmo julgamento, é outra coisa ”. A invenção foi a passagem "do anátema para o diálogo". No caso do comunismo, décadas de condenação precisavam ser deixadas de lado para passar para a nova estratégia de 'mão estendida'. Havia a convicção de que a colaboração com o inimigo traria melhores resultados mais do que lutar contra ele. E o discurso de João XXIII, do qual o cardeal Zen gosta, era o magna charta da política de "détente" de que ele não gosta.

A primeira expressão de Ostpolitik, simbolizada pelo então [secretário de Estado] Monsenhor Casaroli, foi a “promessa” feita pela Santa Sé ao governo soviético de não condenar o comunismo de qualquer forma. Essa era a condição solicitada pelo Kremlin para permitir a participação de observadores do patriarcado de Moscou no Vaticano II.

Não há necessidade de muita sagacidade para entender que Ostpolitik em relação à Rússia foi fruto de uma escolha política precisa feita por João XXIII e Paulo VI, pois o Ospolitik em relação à China é fruto da estratégia política do Papa Francisco. 

Os secretários de Estado são executores das indicações dadas pelos pontífices e os pontífices assumem as responsabilidades das escolhas políticas feitas pela Santa Sé. A esse respeito, João XXIII e Paulo VI, como o Papa Francisco hoje, cometeram erros pastorais e políticos significativos.

Não é a primeira vez que isso acontece na história. O ralliement de Leão XIII com a terceira República Maçônica foi um erro devastador e os historiadores hoje enfatizam suas graves conseqüências. Criticar os erros estratégicos e pastorais de um papa é legítimo e o cardeal Zen faz isso ao criticar as políticas da Santa Sé de ontem e hoje em relação ao comunismo. Se alguém se opuser dizendo que os papas sempre são guiados pelo Espírito Santo, ele pode facilmente responder que um papa pode cair em erro, como aconteceu, e ainda pode acontecer na história. E também estamos convencidos de que o Espírito Santo não ajudou na Ostpolitik do papa Francisco, mas esclarece as críticas do cardeal Zen sobre a Ostpolitik. Se, no entanto, um Papa pode errar, ainda mais isso pode ser aplicado a um Concílio, que continua sendo um Concílio válido, Válido sim, mas catastrófico, como foi o vigésimo primeiro Concílio Ecumênico da Igreja.


5 comentários:

Rafael P. disse...

Caro Pedro,

Que tempos difíceis.

Primeiramente, o Cardeal Zen defender o CVII sim me pareceu bem contraditório. Ele sempre ataca mais o Cardeal Parolin, isentando Papa Francisco dos problemas da China. Sempre olhei isso de maneira que Zen quer evitar confronto direto com Francisco. Mas o silêncio de Francisco é bem complicado de ser defendido. Problema 1.

Mas a pior parte [Problema 2] para mim foi o parágrafo final sobre Leão XIII. Eu tive contato com as encíclicas de Leão XIII de forma muito positiva, fazendo um contraponto ao conceito deturpado que o Marxismo fez do tal "povo", famigerado negativamente nos dias atuais pela Teologia da Libertação.

Assim como, Leão XIII com a Humanum Genus como alguém contra a Maçonaria era um oásis Papal de uma Igreja se levantando contra a Maçonaria, coisa que ultimamente passa longe.

Agora com esse capítulo dizendo praticamente o contrário fiquei sem saber mais o que achar. Admiro o trabalho de Mattei e numa rápida pesquisa vi que ele escreveu um livro sobre isso (O Ralliement de Leão XIII). Inclusive o Beato Pio IX chegou a manobrar para impedir que fosse sucedido pelo Cardeal Pecci (futuro Leão XIII) por já vê-lo como um problema.

Complicado. Como sempre digo, os problemas de Francisco não nasceram no pontificado dele. Foram uma sucessão de problemas. E parece que o "fio da meada" está cada vez mais longe, antes mesmo do CVII.

Adilson disse...

Boa postagem, dr Pedro.

Parece que, de fato, o CV II foi uma tremenda serpente jogada dentro da Igreja. Após a leitura, deixo aqui algumas questões:

1) Sabemos que o CV 2 foi a consequência máxima do modernismo no mundo, porém com a diferença de que no caso da Igreja, a consequência foi dentro da própria Igreja. Então, pergunto:

o clero que participou do CV 2 e o agiram em favor das mudanças não estavam eles mesmos embriagados pelo mar de ideias oriundas desde antes da RF de 1789? Por eles não terem vigiados como fizeram muitos sacerdotes, não acabaram sendo transformados por dentro e, assim, sem perceber, acabaram por se tornar arautos da nova mentalidade modernista?
Bem, quando digo "não terem vigiado", quero dizer não terem se apegados àquilo que homens como São Luiz de Montfort, S. Afonso e e S. Francisco de Salles.

2) Achei interessante, dr Pedro, o sr nos trazer esse problema do cardeal Zen. Acho que tanto ele, quanto centenas de outros sacerdotes manifesta esse comportamento problemático (no Brasil temos vários, e até o padre Paulo Ricardo age assim). E aqui pergunto:
Ao ter essa opinião contraditória de apoiar um Concílio que originou um papa como Francisco e centenas e centenas de sacerdotes, não estaria o próprio cardeal Zen justamente expondo uma mentalidade em que ele próprio foi induzido ao longos dos anos, talvez por causa daquela "obediência estranha" que tanto mons Lefebvre falou?

Bom, parece que Cardeal Zen nasceu nos anos 30. Não tenho certeza, mas acho que a depender da localidade, uma formação sacerdotal numa Tradição intelectual, profunda e rigorosamente orientada já estava sendo abandonada. Embora, Cardeal Zen tenha sido um árduo defensor da liberdade política e da liberdade religiosa, talvez essa luta tenha produzido nele uma mentalidade muito agarrada aos problemas desse mundo, o que geralmente conduz os homens aos diálogos, ou seja: talvez ela não tenha desenvolvido a mesma mentalidade que Lefebvre que seria a de não acatar meias-verdades do CV 2.

3) Mattei disse que "a reunião de Leão XIII com a terceira República Maçônica foi um erro devastado"; então pergunto:

Foi um erro do são papa Leão XIII, ou o evento foi um erro em si, considerando que o que se reuniam o santo pontífice não tinham a chamada pureza de intensão?

É isso.

Pedro Erik Carneiro disse...

Sim, meu amigo. Certa vez, fui pesquisar por que Leao XIII, o papa da Rerum Novarum, não é santo. Vi que um dos fatos foi essa questao da França.

Mas hoje João XXIII e Paulo VI são santos. Acho que são, em termos de formação da doutrina católica, piores que Leão XIII.

Assunto dificil.

Abraço,
Pedro Erik

Pedro Erik Carneiro disse...

Acho que tem razão sobre amentalidade de Zen, caro Adilson.

Sobre Leão XIII, ele não é santo. Ver meu comentário anterior.

A questão da França e sua maçonaria e a Terceira República são um problema até hoje.

Grande abraço,
Pedro Erik

Isac disse...

Continuo supondo que o VII foi como os outros Concílios, apenas que o papa bom ou bom papa João XIII e seu seguidor na íntegra Paulo VI seguiu o anterior e permitiu pelo tratado de Metz não criticar o diabólico comunismo- erro fatalíssimo, pois abriu as portas e janelas da Igreja para seus inimigos internos ressurgirem das tumbas e se alvoraçarem - daí, os de fora na maior cara-dura, entrarem- estou em casa, culminando o ápice das problemáticas bem distante no suposto *desequilibrado papa Francisco das esquerdas, dos muçus sunitas e dos acordos secretos - algo péssimo, modelos do ocultimo da maçonaria com seus cultos secretos!
D Zen, crítico ostensivo dos comunistas com destemor, disse: se eu fosse cartunista desenharia o papa Francisco ajoelhado aos pés de Xi Li Ping: "deixe-me ser papa"!
Só de cessão aos diabólicos PCCistas chineses de "ordenarem" sacerdotes e bispos, além de a mídia globalista o elogiar ou nunca o contradizer, menos ainda o perseguir, bastam-nos!
*Pe Hans Kolvenbach - superior dos jesuítas à época