terça-feira, 25 de agosto de 2020

Tradição Filosófica Católica: Brague, MacIntyre e meu amigo Scott R. Paine

Deixando de lado os posts sobre política que tratam de políticos tão escabrosos como Bolsonaro (que por incrível que pareça ainda tem apoio de gente que se diz temente a Deus), aqui vai um post sobre a tradição filosófica católica. 

No momento,  estou tentando ler tudo que foi escrito pelo filósofo Rémi Brague, na tentativa de escrever um livro sobre seu pensamento.

Rémi Brague, para mim, é o maior pensador vivo do momento. Isso não quer dizer que eu concorde com 100% do que ele diz (eu concordo com uns 97,5%, hehehe).

Mas quando acabo de ler um livro de Brague, eu procuro outro autor para os intervalos. Dessa vez, eu meio que por acaso encontrei o livro do filósofo escocês Alasdair MacIntyre, chamado God, Philosophy, Universities: A Selective History of the Catholic Philosophical Tradition (foto acima), que tenta mostrar a tradição filosófica católica

Estou gostando muito (ainda não terminei, estou na metade). É um livro curto, de menos de 200 páginas. O livro é fruto de suas aulas sobre o assunto e por isso mesmo é extremamente didático. O que facilita muito a leitura. 

A parte inicial do livro é simplesmente sensacional. 

Ele mostra por exemplo que 3 problemas filosóficos surgem quando se acredita em um único Deus  onipotente, todo amor e todo conhecimento, que participa diretamente e indiretamente da vida das pessoas (como fazem judeus, cristãos e muçulmanos). Esses problemas não surgem com o politeísmo ou no ateísmo. Só no monoteísmo do tipo que é feito naquelas três religiões. Os 3 problemas são:

1) Problema do mal. Com a existência do mal entre nós devemos saber que a bondade de Deus não é sem qualitativos. Deus não é bondoso e ponto final. É preciso qualificar este mal. Como diz MacIntyre: "God is not, to say the least, unqualifiedly good".

2) Livre arbítrio, como devemos definir a nossa liberdade frente a onipotência de Deus. Problema que algumas seitas protestantes simplesmente negam ou negaram existir, pois não acreditam em livre arbítrio;

3) Problema da linguagem. Deus excede o nosso entendimento, então como podemos definir Deus? Em que termos? O que significam o poder, o conhecimento e a misericórdia divinas?

A seção do livro sobre as nossas atuais universidades e como as disciplinas ensinadas hoje se diferenciaram e perderam o elo teológico e filosófico entre elas é também sensacional. Sobre isso, MacIntyre, em certo ponto, nos diz que até pouco tempo os teístas enfrentavam apenas o marxismo, e isso era mais fácil de enfrentar do que o ateísmo que temos hoje que despreza completamente a teologia e a filosofia, uma vez que o Marxismo é em si filosofia e também teologia (pelo seu ódio às religiões).

Mas o livro de MacIntyre tem um problema para mim. Talvez para manter o limite do curso que ele ensinava, ou para reduzir o tamanho do livro, MacIntyre inicia a tradição filosófica católica com Santo Agostinho.

MacIntyre perdeu muita coisa ao fazer isso, três séculos de debate filosófico dentro da Igreja ficaram de fora, deixando muitos autores brilhantes pelo caminho. 

Hoje, meu amigo professor Scott Randal Paine me enviou um vídeo que mostra o tanto que MacIntyre perdeu ao começar com Santo Agostinho.

Aqui vai o vídeo do professor Scott, divirtam-se, está em português.


Assinem o canal do professor Scott e aprendam sobre filosofia. Eu concordo com ele um pouco menos do que com Brague, hehehe.



2 comentários:

Rafael Pauli disse...

Olá Caro Pedro,

Agradeço a indicação. Já me inscrevi no canal dele, fiquei interessado também por 3 vídeos sobre São João Henry Newman e dois sobre Chesterton.

Ainda preciso evoluir muito a respeito de Filosofia, estou dando alguns passos.

Em tempo, e buscando expandir um pouco a vida intelectual estou fazendo um curso com o Bernardo Veiga, do Canal Aquinate (https://www.youtube.com/c/CanalAquinate/videos).

O foco dele é o pensamento de São Tomás de Aquino. Enquanto no Youtube ele divulga alguns vídeos bem curtos, em paralelo nas páginas do curso ele se aprofunda em materiais mais ricos.

Enfim, creio ser algo bem iniciante ao nível que você se encontra. Mas vai que alguém se interesse, acho que para iniciantes um material bem acessível (linguagem e investimento), ainda mais sendo um conteúdo que nos direciona ainda mais para Deus.

Um abraço

Pedro Erik Carneiro disse...

Ótimo, muito obrigado, Rafael, pela indicação do canal Aquinate.

Grande abraço