terça-feira, 18 de agosto de 2020

China é Capitalista? EUA é Socialista? (e Distributismo não Serve para Nada?)

Hoje, o site The American Catholic traz um debate sobre Distributismo. Em poucas palavras, detona o Distributismo, como proposta de política econômica que não serve para nada. Não passaria de uma brincadeira de Belloc e Chesterton. O debate é centrado em um artigo de John Wright. Tenho dificuldade de engolir a ideia de que o Distributismo não serve para nada, especialmente, dita por católicos, quando é uma sugestão que valoriza tanto a propriedade privada da família. 

Mas eu até entendo um dos argumentos contra o Distributismo, qual seja, o Distributismo exigiria um estado gigantesco para manter todas as propriedades privadas limitadas a certo tamanho. 

Mas como eu falei no meu livro Ética Católica para Economia, tanto Belloc como Chesterton também reconheceram esse problema, e argumentaram que o Distributismo propõe um caminho e não uma revolução. 

Eu até acho que o Distributismo tem outros problemas que não foram ditos por Wright, em um texto realmente limitado, como a dificuldade de lidar com o mercado financeiro e a dificuldade de incentivar o investimento produtivo (falo desses problemas no meu livro), limitações tratada até de forma grosseira por Chesterton e Belloc. Em suma, eu até ajudaria o texto de Wright nestes aspectos.

Mas para outras críticas do site American Catholic e de Wright contra o Distributismo, eu discordo de forma peremptória, completamente. Não se pode dizer que Distributismo é ruim porque nunca foi tentado, mesmo porque mesmo o catolicismo nunca foi tentado. Muito menos se pode dizer que Chesterton e Belloc detestavam o capitalismo, eles queriam ampliar o uso da propriedade privada. Eles detestavam o socialismo.

Para qualquer análise, como ensinou São Tomás de Aquino, a primeira coisa a fazer é definir os termos. 

Você deve dizer se o capitalismo ou o socialismo foram tentados. Para isso precisa definir o que é capitalismo e socialismo.

Como também eu deixo explícito no meu livro, há enorme dificuldade para se definir capitalismo, quando se tenta fazê-lo. O que é capitalismo? É a adoção do livre mercado? Se for isso, então capitalismo nunca foi tentado. É a liberdade de escolhas? Então também nunca foi tentado. É o uso de capital e trabalho para a produção? Então sempre foi feito, mesmo nos países ditos comunistas. 

Socialismo é o quê? Apenas controle dos meios de produção pelo Estado? Só os estados ditos socialistas controlam os meios de produção? A Embraer, a empresa brasileira de mais renome e mais tecnológica do Brasil, tem enorme controle do Estado. O setor privado nunca destrói o que é bom e produtivo? Só o Estado?  Só tem gente competente no setor privado?

Você acha que foi o capitalismo deu riquezas para a China? A China então é um país capitalista mesmo com controle quase pleno do povo, dos bancos e das indústrias chinesas pelo Partido Comunista Chinês? A China só enriqueceu por conta das empresas que foram trabalhar lá? Elas foram lá por quê? Por causa das reformas capitalistas ou do trabalho quase escravo de milhões de chineses? As empresas só atuam e enriquecem em países que fizeram reformas econômicas? E eu não estou nem entrando no debate sobre o que é riqueza. Por exemplo, ser país rico é ter PIB elevado? Você preferia morar na China ou no Brasil? China é atualmente, pelo PIB, o segundo país mais rico do mundo.

De outra forma, os Estados Unidos, o país dos advogados, são capitalista ou comunista? Você já viu o tamanho gigante da regulação econômica americana?  No meu livro, eu realcei a burocracia financeira nos EUA. Você já leu sobre o tamanho da burocracia e do gigantesco gasto público social nos Estados Unidos? Você já viu o tamanho da dívida dos Estados Unidos? Essa dívida não limita as ações dos agentes econômicos, desde os estudantes até o governo federal dos Estados Unidos?

O Brasil é o quê? Capitalista ou socialista?

 Não será que China, Estados Unidos e Brasil possuem o mesmo tipo de modelagem econômica basicamente, conhecida em inglês como "crony capitalism" (capitalismo de compadre)?

Não é o pecado, que sai do coração dos homens, o grande problema?


6 comentários:

Emanoel Truta disse...

Boa tarde Pedro!

A última frase resume tudo: o pecado nascido no nosso coração.

Horácio Ramalho disse...

Saudações. Caro Professor, como o irmão Truta ressaltou, a última frase resume tudo. Pois é por causa do pecado que a imperfeição, a falibilidade, a fraqueza e fragilidade do ser humano permeia todas as suas obras, incluindo a organização política e econômica. Não li o referido artigo, mas em um que foi publicado na 'Revista de Geopolítica', os autores argumentam sobre a Economia Social alemã e Distributismo. Em um trecho, de forma aqui resumida por mim, eles dizem que o Distributismo falha em apresentar soluções para problemas econômicos, em termos econômicos, focando-se mais na moral. Acredito que uma dificuldade em responder as perguntas que o senhor faz no título desta matéria, seja a incapacidade das pessoas em separar o sistema político do econômico vigente em um país, daí a Economia Política tentar explicar a interação desses dois sistemas. E concordo com o senhor, o Crony Capitalism é o que existe por aí no mundo. Junta o pior dos sistemas políticos e econômicos, incentivando o pior das elites políticas e econômicas, com o povo sempre prejudicado em última instância.

Pedro Erik Carneiro disse...

Obrigado, amigos, Emanoel e Horácio.

Realmente, na base de tudo está uma péssima formação educacional, que separou a economia (e todas as outras disciplinas) da moral.

Abraço,
Pedro Erik

Ricardo Lima disse...

Horácio Ramalho, você está certo: quem se prejudica em última instância, sempre, é o povo (tanto o que é financeiramente pobre, quanto a classe média - e até mesmo alguns que são quase-ricos).

Uma pena.

E, pelo que eu vejo, o atual governo federal brasileiro vai trilhando este mesmo caminho. :(

Anônimo disse...

Prezado Dr. Pedro,
Conheço o distributismo por conta das suas postagens e sempre me pareceu muito interessante. Aliás, ao pensar do Brasil rural (isso até 1960-70), era comum muitas famílias ter terra para trabalhar e garantir seu sustento. De certa forma todos eram empreendedores.
Um abraço! Gustavo.

Isac disse...

MUITOS ANOS ATRÁS, EXISTIAM NO BRASIL OS "MEIEIROS", não possuiam terras mas plantavam a 30, 40 ou até 50% do colhido, e viviam em paz.
Porém, como previu N Senhora, o comunismo se espalharia e onde mete suas patas avacalha tudo, querendo para o gueto deles serem os imperialistas, capitalistas e escravagistas de Estado!
O Distributismo provém de ensinamentos papais, um meio de todos sobreviverem dignamente sem extremos de riqueza e miséria!